Crônica do Dia: As reticências do amor

kátia-muniz2Por: Kátia Muniz

Minha amiga me perguntou: “Você acredita mesmo que um amor possa ficar engavetado durante 20 anos?”.

Ela estava se referindo ao casal de protagonistas da atual novela das 21h, da Rede Globo, “A Lei do Amor”.

Mostrava-se incrédula. Achou um exagero, depois de 20 anos de ausência, os dois pombinhos se olharem e todo o amor vivido no passado retomar à cena.

Eu não acompanho a novela, mas ela foi me dando detalhes, ao mesmo tempo que fincava o pé ao afirmar que isso não existia, era coisa de novela.

Ri e respondi: “A vida também é uma novela, baby.”

Em se tratando de amor tudo é possível, e nada, absolutamente, nada pode ser descartado.

Amor não acompanha lógica. Não segue cartilha. Não respeita roteiro.

Amor surge, acontece, brota, vibra, pulsa.

Sabe qual é o problema do amor? É quando ele encontra as reticências.

Você encontra alguém. Formam um casal. Vivem o amor, até que com o passar do tempo resolvem que cada um deve seguir a vida em carreira solo. Em comum acordo, colocam um ponto final na relação. Fecha-se o ciclo.

Você encontra alguém. Formam um casal. Vivem o amor, até que por algum motivo algo interrompe o relacionamento. Algo que fugiu completamente da vontade dos dois. Separam-se não porque não se amem mais, mas devido às circunstâncias da vida. É aí que o amor encontra as reticências.

Faltou completar o circuito, faltou a continuidade, faltou seguir adiante. Faz-se o que com esse amor que não foi vivido na plenitude? Engaveta-se.

A vida joga cada um para um lado. Podem ou não formar família, podem mudar de país, podem fazer o que quiserem, mas basta colocarem-se os dois frente a frente que o amor adormecido vem dar uma espiada nos protagonistas.

Acontece. E não somente em folhetim.

Pernas tremem, coração acelera, mãos suam, pupilas dilatam, palavras não se encaixam como deveriam, nervosismo toma conta e o amor se reconhece. Nem precisa você sentir tudo isso junto, basta um item apenas e você mesmo que não queira admitir, mesmo que queira representar, sabe que é dentro que os sentimentos funcionam de maneira verdadeira.

Amores sem ponto final ficam guardados em algum canto. Uma música, um encontro inesperado ou esperado, um lugar, um momento, uma lembrança, tudo pode fazer com que ele reapareça.

Cabe aos dois decidir se preenchem ou não as reticências.

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