Crônica do Dia: 2017

katia-muniz2Para: Kátia Muniz

Em um encontro de amigos, com dezembro ainda recebendo os primeiros sinais de vida, ouvi alguém dizer: “Eu desejo que 2017 seja 100%.”

Força de expressão, claro.

Tudo dentro de uma linha reta, fechando bonitinho o balanço da vida, nada fora do lugar, tudo perfeito, impecável, correto, primoroso, virtuoso, imaculado? Sabemos muito bem que a vida não é linear.

Para 2017, eu quero dias ensolarados, mas também desejo que a chuva caia para que eu possa ficar aconchegada no meu canto, na minha cama, nos meus lençóis e no meu travesseiro que tão bem me reconhece.

Quero ter ideias novas para preencher a coluna semanal do jornal, mas que não faltem aqueles dias em que as palavras tomam chá de sumiço e bate o desespero por não saber o que escrever. São, justamente, esses dias que me fazem perceber que não estou no controle de nada, que os altos e baixos se instalam, que o bloqueio criativo faz visitas, e que terei dias de muita produção e outros em que não escreverei nem uma linha.

Quero que meus amigos não tenham preguiça de mim. Que continuem me convidando para sair. Que promovam curto-circuito no meu whatsApp, mas que, sobretudo, sejam compreensivos quando eu decido ficar em silêncio.

Quero um mundo com mais tolerância. Na teoria, há uma enorme propaganda de aceitação do outro com tudo que ele traz, mas, na prática, a humanidade é péssima em acolher quem não compactua com as mesmas ideias, com quem não carrega o mesmo tom de pele, com quem não tem a mesma opção sexual que a nossa. Ainda não sabemos lidar com a diversidade que o planeta comporta.

Quero dias calmos, pitadas de ociosidade, tranquilidade, leveza, mas não sempre. Também sou feita de urgências, de natureza produtiva, de concretizações. Realizar é um verbo que me veste bem.

Quero ler, quero estudar, quero movimento, quero vontades, quero sonhos alcançáveis, quero continuar com meus pensamentos em alta voltagem.

Quero discernimento para enxergar meus erros, quero ter a humildade de pedir desculpas, quero ser grata a quem me estende a mão e quero a sabedoria para manter distância de gente arrogante.

Quero continuar sendo eu, esse ser passível de falhas, de erros, cheia de imperfeições. Mas que não me falte a persistência, a vontade de viver, a loucura pela liberdade, a disciplina e a alternância de ora manter os pés no chão e ora mantê-los bem longe dele.

Não quero o 100%. Quero lacunas, quero espaços, quero vãos, quero brechas, quero hiatos, qualquer coisa que sinalize que ainda há muito a ser preenchido.

P.S: De uma amiga, recebi a seguinte mensagem: “Que em 2017, você continue a bailar com as palavras”. Caros leitores, me acompanhem no bailado! Feliz Ano Novo para todos nós!

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