Por: Kátia Muniz

Sabe, leitor, eu tenho uma mania. Uma não, várias. Mas, no dia do meu aniversário, costumo encher o bolo com a quantidade exata de velinhas que correspondem à idade inaugurada. Talvez eu devesse optar por duas velas, na cor rosa, indicando o número de anos já percorridos, ou quem sabe aquela vela única, que, ao ser acesa, espalha um fogaréu capaz de acionar o alarme de incêndio. Eu e meus exageros. Não ligue!

Mas cá estou, colocando velinha por velinha no bolo. Aliás, diminuo o tamanho do bolo conforme a idade avança. Uma equação que, daqui a alguns anos, não vai fechar, eu bem sei.

A voz da minha consciência diz: “Não convém comer tanto açúcar”. Eu até a obedeceria, se não fosse um prato de beijinhos que mamãe deposita, carinhosamente, à minha frente. Beijos e beijinhos é algo que nunca se deve recusar.

Rodeada daqueles que me amam, continuo com o árduo ofício. Eles esperam com paciência de Jó. Afinal, não seria o amor o nosso maior teste de paciência?

Ah, ia esquecendo de mencionar: as velinhas precisam ser teimosas. Algumas a gente assopra e não se conformam em serem apagadas. Num ímpeto fazem ressurgir um foguinho. Tem que ser dessas, porque diz a lenda que cada vez que elas reacendem a gente deve fazer alguns pedidos.

Já fui de torcer o nariz para o dia do meu aniversário. Bastava o mês de março dar seus primeiros sinais de vida que eu resmungava: “Ah, estou ficando mais velha!”. Agora, acho tudo uma festa, mesmo que não haja nenhuma. Fico eufórica, entusiasmada, faceira, boto a meninice para reinar. É dentro de mim que os festejos acontecem. É internamente que a alma pula, que o coração dispara e faz com que eu me sinta bem.

Assopro as 48 velinhas. Algumas reacendem. Hora de fazer os pedidos.

Tão teimosa quanto as velas sou eu, que não peço nada, mas sei o quanto tenho a agradecer.

É um presente ter chegado até aqui!