Crônica do Dia: O Oscar vai para…

I Noite Literária Leão XIII junho 201619 - CópiaPor: Kátia Muniz

Enquanto muitos acompanhavam os ziriguiduns carnavalescos, eu fixei meus olhos na entrega do Oscar/2017.

Aos atores Warren Beatty e Faye Dunaway coube a grata e, segundos depois, a ingrata tarefa de apresentar o vencedor de melhor filme.

Warren Beatty, segurando o envelope errado nas mãos, fica visivelmente perdido. Procura uma nova ficha dentro do invólucro, olha para um lado, para o outro e, por final, joga o abacaxi no colo de Faye Dunaway. Ela, não hesita, anuncia o filme errado.

Segundos depois do ocorrido, bastava abrir a internet para ler os mais diversos comentários. Warren Beatty foi massacrado.

Somos ótimos apontando falhas alheias, enquanto seguramos um refrigerante numa mão e um balde de pipocas na outra.

O que nós faríamos se fôssemos Warren Beatty?

Com certeza, tiraríamos de letra, e pouparíamos boa parte da população do planeta de seguir assistindo à trapalhada histórica. Nós que não conseguimos nem decidir se casamos ou compramos uma bicicleta. Se fazemos arquitetura ou jornalismo. Se, diante do relógio biológico fazendo tic-tac-tic-tac, temos um filho ou não.

Nada nos deixa mais vulneráveis do que a hora do enfrentamento.

Às vezes, a vida nos prega essa peça. Temos segundos para tomarmos uma decisão. Reagiremos ou não ao assalto? Intrometemo-nos ou não na briga do vizinho? Assumimos o erro ou fingimos que não é conosco?

De fora do problema, não hesitamos em espalhar a nossa opinião. Aliás, opinião é um ingrediente que não nos falta, principalmente quando nos sentimos, falsamente, protegidos pela tela do computador.

Warren Beatty, se perdeu, lógico. Assim, como todos nós que, diante das acareações diárias, também paralisamos, também nos perdemos, também nos fragilizamos, também travamos, também nos assustamos, também metemos os pés pelas mãos.

É fácil apontar o dedo, escarafunchar falhas e deslizes alheios. Esquecemos que, em algum momento, também seremos colocados à prova. Baixemos a guarda. A gente não sabe de nada até que chegue a nossa vez.

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