Crônica do Dia: Carta para uma amiga

Kátia Muniz

Querida, amiga:

carta-o-livro-delasSim, eu sei que dói, eu sei que dilacera. Quem já não sofreu por amor. Quem?

Escrevo, assim, por carta. Coisa “démodé”, antiquada, estilo perdido diante das modernidades. Mas, você sabe, acho o barulho da mensagem chegando pelo WhatsApp mecânico demais, urgente demais, fugaz demais. Nada é comparável a encontrar um envelope lacrado na caixa de correspondência. Um papel em manuscrito, letras sem abreviaturas e uma assinatura para legitimar. Acho lindo!

Mas me diga: quando você vai voltar a ser você?

Posso imaginar você me olhando e dizendo: “Para quem está de fora, tudo é mais fácil”.

Inegável. Estar de fora significa não ter vivido a experiência, não ter se entregado da mesma forma, não ter aproveitado o momento, não ter mergulhado nos prazeres.

Estar de fora é exclusão. Dilacera igual, sabia? Nada é mais mortal do que não sentir nada. Nadar no raso, banhar-se até as canelas.

Antes de você viajar, eu te disse: “comporte-se”. Você gargalhou. Soltou aquela risada gostosa que só você sabe dar para, na sequência, completar: “Que coisa mais sem graça é se comportar”.

Amiga, dói agora porque você viveu. Dói porque você ousou. Dói porque você se permitiu. Dói porque você foi intensa. Dói porque virou lembrança. Dói porque não foi adiante. Dói porque se instalou um hiato. Dói, eu sei.

Mas a dor da experiência ainda é mais benéfica do que uma vida anestesiada. Do que uma vida sem sobressaltos. Do que uma vida adormecida.

Amar é um risco. Deliciosamente, um risco. E de riscos você entende.

Você vai se recompor. Você vai enxugar essas lágrimas e vai recolocar o sorriso no rosto. E, logo ali na frente, você vai novamente se inquietar, vai buscar novos sonhos, novas promessas, novos desejos, novas possibilidades. Porque você é esse dínamo que precisa estar com o coração em movimento.

A você, dou colo, abraços de aconchego, ofereço os meus ombros, oferto os meus ouvidos e te forneço palavras ou o silêncio, se você assim preferir.

Estou por aqui, você bem sabe.

Beijos meus.

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