Primeiro, chegou uma solicitação de amizade pelo Facebook.
Tudo certo. Tudo ok. Ele curte todas as postagens dela. Ela curte todas as postagens dele. Gastam preciosos minutos vasculhando as fotos e a timeline um do outro. Ela o acha interessante. Ele a acha uma mulher deslumbrante. Até que chega a hora de alguém tomar uma iniciativa. Ele se enche de coragem e a chama em mensagem privada.
Nunca se viram antes, mas a conversa flui de uma maneira tão agradável que não restam dúvidas: foram feitos um para outro.
O próximo passo é conseguir o contato do WhatsApp. Numa velocidade supersônica, os números de cada um já estão na lista de contatos.
Ela espera ansiosa pelas mensagens dele, enquanto a recíproca também é verdadeira.
Descobrem-se com meia dúzia de afinidades, riem de bobagem, teclam desesperadamente e já pensam um no outro o tempo todo.
Diagnóstico: paixão virtual.
Os dias passam, as mensagens se intensificam até que, já não aguentando mais a ausência física, resolvem marcar um encontro.
No dia e hora combinados, eles finalmente estão frente a frente.
Instala-se um nervosismo para ambos. Atrapalham-se nos cumprimentos. Sentam-se de maneira displicente e o termo “à vontade” não recebeu convite para ocupar a mesa.
Ela o analisa com cautela: a voz poderia ser mais grave, o perfume dele não a agradou, e que raios é essa mania que ele tem de coçar o queixo a todo o momento.
Ele a analisa com malícia: os seios poderiam ser maiores, as coxas mais grossas e, nas fotos, ela não tinha todas essas manchas no rosto.
Minutos depois, conseguem travar um diálogo. O desconforto pairava no ar, e as várias pausas nas falas acarretavam um silêncio constrangedor. Estavam conscientes de que o encontro minou, de vez, toda a paixão que se instalou na proteção da tela do smartphone de cada um.
Despendem-se com um: depois te mando mensagem.
O celular dela não acusou nenhuma mensagem. O dele idem.