Crônica do Dia: O tempo e o amor

kátia 1Por: Kátia Muniz

Diante dela, ele começou a falar:

Antes de tudo, eu quero te agradecer por ter aceitado o convite para o café.

Você não mudou nada, sabia? Ainda traz o jeito meigo, o mesmo olhar e as covinhas no canto da boca quando sorri. Exatamente do mesmo modo quando me apaixonei por você na nossa adolescência.

Eu te amei em silêncio, enquanto você namorava outras pessoas. Eu te amei na reserva, na discrição, imerso em mim mesmo. Eu te amei dentro da minha falta de coragem de me revelar.

Eu te amei de longe, acompanhando teus passos, te observando, te desejando mesmo sem poder te tocar e, então, passei a sonhar. Pois eram os sonhos que me davam a única oportunidade de você ser minha. Sonhar era trazer uma esperança, um frescor na dura realidade que eu vivia.

Eu te amei durante uma vida. Eu te amei enquanto trabalhava, enquanto passeava, enquanto escovava os dentes, enquanto me alimentava, enquanto fazia compras, enquanto eu dirigia, enquanto ia ao mercado. Eu te amei nos momentos mais banais do meu dia a dia.

Sim, eu sei que você não sabia de nada. Eu nunca deixei que você soubesse. Entendo esse teu olhar perplexo.

A vida fez a gente perder o contato e a mesma vida fez os nossos caminhos se cruzarem novamente. Dessa vez, eu não poderia perder a chance. Dessa vez, eu não poderia jogar fora a oportunidade de falar, de dividir com você o amor que eu, sozinho, carreguei durante todos esses anos.

Quero que saiba que não estou à vontade. Meu coração segue em arritmia, desconsertado diante de você.

Talvez eu esteja fazendo tudo errado, talvez esse não seja o melhor momento, a melhor hora, o melhor lugar. Se todas essas pessoas que estão aqui soubessem o que se desenrola na nossa mesa, fariam plateia para ovacionar o amor.

Sim, porque eu ainda te amo. Mas eu não te peço nada. Que amor é algo que não se pede. De qualquer forma, se bater uma vontade de falar comigo novamente, o meu número está aqui nesse cartão.

Ela tomou o último gole do café, que, agora, estava frio e acompanhou com os olhos ele ir embora.

Ele saiu de alma leve. Finalmente, conseguiu dar vazão ao que nela não mais cabia.

P.S: Caro leitor, retorno em agosto. Até lá!

 

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