Já faz tempo. Havia me hospedado em um hotel, no centro de Curitiba. Estava retornando de um passeio, quando um homem alto, com um rosto que me pareceu familiar, segurou a porta de entrada do hotel para que eu pudesse passar. Justo eu que não sou de economizar sorrisos, entreguei a ele um bem farto, daqueles que só a boca não dá conta e, por isso, acaba usando o rosto inteiro. Agradeci o gesto, e ele respondeu com voz grave: “De nada”. Peguei o elevador com a dúvida martelando na minha cabeça: “Eu conheço esse cara de algum lugar!”. Depois de quase promover um curto-circuito interno nos meus neurônios, fui acometida com a real identidade do tal homem: Arnaldo Antunes. Ex-titãs e, agora, alçado à minha lista de homens gentis que cruzaram o meu caminho.
Outra: enfrentava um daqueles dias em que a nossa paciência é testada à exaustão. Já no final da tarde, resolvi abrir o meu e-mail. Lá estava me aguardando, desde o início da manhã, a mensagem de uma amiga que, com uma única frase, foi capaz de me devolver a força e a vontade de sorrir novamente. Eis, aqui: “Já estou com saudades”.
Mais uma: outra amiga foi viajar para o Nordeste e me trouxe um bloquinho de anotações. Entregou-me, com ar tímido, acompanhado da célebre frase: “É só uma lembrancinha”. Ah, minha amiga, quanta felicidade há no gesto de ser lembrada!
Tem gente que gosta de usar a expressão: “Pequenos gestos fazem a diferença”.
Pequenos gestos?
Onde se encaixa a pequenez, diante de tanta delicadeza?
São gestos grandiosos, majestosos, sublimes, superlativos. Não há nada de pequeno.
Em um mundo cada vez mais individual, mais truculento, mais apressado, guiado por iPhones e smartphones, e que impera tão pouca entrega e cuidado nas relações interpessoais, há de se ressaltar o sopro dos sentimentos que ainda faz de nós humanos.
É a mensagem de alguém especial que chega por e-mail ou pelo WhatsApp. É receber uma flor arrancada de algum jardim. É um telefonema no meio da tarde para dizer que se importa. É o preparo do prato que ele ou ela tanto aprecia. É dizer que sente saudades. É expressar um elogio.
Qualquer atitude que nos tire do piloto automático, que quebre a nossa rotina estafante e possa promover o brilho nos olhos, a emoção e o sorriso será sempre bem-vinda!
São os gestos, as gentilezas, a beleza das atitudes que ainda são capazes de nos entregar leveza e salvar os nossos dias.