Quem é o homem que vive sobre duas rodas de uma bicicleta

Vinícius da Silva viaja há mais de 17 anos de bicicleta após perder mãe, pai, irmãos e avós. Ele comemora aniversário hoje!

unnamedVinícius da Silva, que teve sua bicicleta furtada na semana passada, em Paranaguá, comemora 32 anos nesta terça-feira, dia 8.

Por Jhonatan Coppini

Ele, que já passou por 17 países, 4.745 cidades somente no Brasil, mais de 300 mil quilômetros pedalando, foi forçado a permanecer mais dias do que o previsto em Paranaguá. Rotina de um legítimo aventureiro, que apesar de ser sozinho no mundo, nunca se sente assim. “A única família que tenho são os amigos que encontro por onde eu passo e as pessoas que convivem comigo no meu dia a dia”, diz o homem de 32 anos em uma entrevista exclusiva ao site Oeste Mais.

A vida desregrada na companhia da bicicleta começou entre o final de 1999 e início de 2000. Dono de um passado sofrido, o ainda adolescente Vinicius perdeu os pais adotivos em um naufrágio em Manaus (AM). “Eu fui encontrado quatro horas depois e fiquei em coma por seis meses. Na embarcação estavam meu pai, minha mãe, meus três irmãos e meus avós. Todos morreram”.

A família que Vinicius perdeu aos 13 anos havia o adotado aos dois, quando foi abandonado dentro de uma caixa de papelão. Após a tragédia, o menino foi para um orfanato, mas fugiu pouco tempo depois com uma bicicleta que ganhara de uma amiga. Nunca mais voltou. “Não conheço meus pais biológicos, mas gostaria de conhecê-los um dia”, sonha.

Confira os principais trechos da conversa de Vinicius da Silva com o Oeste Mais:

Encontrado em uma caixa

Minha história de vida é muito complicada. As pessoas que morreram na embarcação eram apenas meus parentes adotivos. Eu fui abandonado quando era criança. Não conheço meus pais biológicos, mas gostaria de conhecê-los um dia. Fui encontrado dentro de uma caixa de papelão quando eu tinha dois anos.

Lembranças da tragédia

Perdi minha família em um acidente em 1999 em Manaus, quando eu tinha 13 anos. A maior tragédia brasileira de embarcação, com 500 a 600 pessoas mortas, e eu fui encontrado quatro horas depois pelo capitão da Marinha Mercante de Santarém do Pará. Depois fiquei em coma por seis meses. Na embarcação estavam meu pai, minha mãe, meus três irmãos e meus avós. Todos morreram. Estávamos fazendo uma viagem que seguia de Manaus, no Amazonas, para Parintins. Não me lembro muito bem dessa viagem, mas nós estávamos fazendo aquele percurso em uma balsa parintinense.

Do orfanato para o mundo

Me recuperei em agosto do mesmo ano e fui para a casa de um amigo, mas ele precisou viajar, então fiquei no orfanato em Manaus e sofri muito. Um mês depois da minha recuperação, ganhei uma bicicleta que eu tanto queria de uma amiga, sem nem ao menos saber andar. Quando eu aprendi a andar de bicicleta, fugi do orfanato, caí e me machuquei várias vezes. Depois nunca mais voltei para lá, pois apanhava muito naquele lugar. Decidi que ia rodar o mundo e nunca mais tive uma moradia fixa, apenas andando pelas ruas e viajando.

Em busca da superação

O que mais me motivou [a viver a vida de aventura] foi a perda da minha família. Me sentia uma pessoa sozinha, sem saber o que fazer da vida, então procurei um motivo para ser reconhecido pelas pessoas e ter um nome valorizado. Tudo o que eu queria está acontecendo agora com as minhas viagens, porque eu não tenho casa, a minha moradia é a bicicleta e a estrada.

Paradas curtas

Em cada cidade, fico cerca de três dias. Em Ponte Serrada eu estou desde sexta-feira, dia 12. Durmo no relento. Raramente durmo em hotéis. Eu sobrevivo de doações das pessoas. Não tenho nenhum patrocinador e o dinheiro que as pessoas me dão eu compro material para a minha bicicleta, alimentos e remédios.

Trabalhos temporários

Já trabalhei como fotógrafo, como cinegrafista, palhaço, transformista, já fui vendedor de picolé, já carpi terrenos, bati pedras… Não faço nada por muito tempo, todos os trabalhos são provisórios em cada cidade. Depois que termino, sigo a estrada. Tudo é temporário. Eu sempre encontro um trabalho para fazer onde passo. Sempre tem alguém me oferecendo algum trabalho para fazer, desde lavar os pratos em um restaurante ou algo do tipo. Não meço esforços, pois sei que vou ganhar uma recompensa de alguém.

Histórias na bagagem

Já visitei 17 países e fiz uma viagem para a Alemanha, na Europa. Já foram 300 mil quilômetros percorridos, duas voltas no Brasil e agora estou andando novamente dentro do Brasil para visitar amigos que me convidaram. É a primeira vez que estou visitando Ponte Serrada e o Oeste do estado. Só no Brasil percorri 4.745 cidades. Não tenho família. A única família que tenho são os amigos que encontro por onde eu passo e as pessoas que convivem comigo no meu dia a dia.

Medos, dificuldades e riscos

Tenho muito medo das capitais por causa da violência e criminalidade, eu sempre evito, mas acabo passando por elas. Desses 17 países que visitei, fui muito respeitado em todos, e aqui dentro do Brasil fui roubado 23 vezes e agredido. Nada grave, mas já sofri violência aqui. Já tive 37 bicicletas e hoje estou com uma bicicleta que ninguém acredita que vai tão longe. Todas elas eu ganhei. Conforme vou ganhando, vou trocando. Sempre procuro carregar comigo um kit de remédios para alguma emergência. Quando falta alguma coisa, eu compro. Já tive dores de cabeça, gripe, mas nada grave. Sempre bati o pé e segui em frente.

Em busca de um sonho

Guinness (Livro dos Recordes Mundiais) para mim é uma referência muito forte, pois não é para qualquer um chegar ao topo dele. Estou fazendo contato com algumas pessoas pelas redes sociais para poder levar até eles o conhecimento da minha vida, da minha história e da minha trajetória.

 Na página pessoal de Vinicius da Silva no Facebook é possível conhecer um pouco mais sobre a vida do aventureiro e ainda manter contato para ajudá-lo. O perfil traz também imagens sobre os caminhos que ele percorre pedalando.

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