Crônica do Dia: A falta

Por: Kátia Muniz

tumblr_m15qgvxYXg1qhlzvpo1_500Já contei, aqui na coluna, que recebo muito material como sugestão de temas para as crônicas. São pessoas que me escrevem de maneira gentil e educada e costumam dizer: “Vi e lembrei de você”. “Acho que você vai gostar”. “Isso dá crônica, você não acha?”. Analiso tudo. E no meio de links que me direcionam para textos diversos e inúmeros vídeos, acontece, vez ou outra, de algo me tocar. Foi o caso do vídeo que recebi de uma amiga com o acréscimo curto e objetivo na mensagem: “Achei lindo e profundo!”.

Foi assim, que eu conheci o vídeo intitulado “A falta que a falta faz”, no canal “Jout Jout Prazer” do You Tube, baseado na leitura de um livro infantil. Dependendo da faixa etária da criança, a mensagem sugerida no livro, que traz uma narrativa curta aliada às ilustrações, pode não obter o alcance desejado. Em compensação, para o universo adulto é um soco no estômago, remexe as entranhas e é capaz de comover até as pedras.

No livro, aparece a figura de um círculo sem um pedaço, que procura desesperadamente por essa parte que lhe falta.

O que falta? Eis a questão.

Você sente falta de um emprego, uma promoção, um aumento de salário oriundo do reconhecimento profissional. Você sente falta de um amigo verdadeiro a quem possa recorrer e contar, e não de tantas relações superficiais que só fazem aumentar a sensação de vazio. Você sente falta de viajar para espairecer, para ampliar sua visão de mundo, para ter acesso a outros lugares e culturas. Você sente falta da juventude que ficou para trás. Sente falta de ter um irmão que, no intervalo de três gestações de meninas, nunca foi gerado. Sente falta de um tempo para si mesmo, com direito a uma trégua nas infinitas decisões diárias.

Pasme! Quando você consegue o que deseja, outras lacunas se abrem, outros vãos aparecem e a insatisfação lhe dá as mãos.

Você a conheceu. Ela é linda, estonteante! Mas não é carinhosa e possui algumas manias que não lhe agradam. Você segue com essa mulher, exibindo-a como se fosse um troféu, enquanto, por dentro, cutuca a cada instante saber a falta que faz tudo aquilo que ela não conseguiu entregar.

Lá está você, solteiro da silva, à procura de um amor para chamar de seu. Sente falta de alguém para conversar e para dividir a vida.

Lá está você sentindo falta de um filho que a chame de mãe, de terminar a faculdade que trancou por motivos diversos, de mais tempo para jogar conversa fora com as amigas.

Alguns vãos são preenchidos, mas ainda não está bom. Você continua a sentir a necessidade, a carência, o desejo por algo que não foi alcançado.

O ciclo não se fecha, e nós vamos desfrutando somente da satisfação momentânea, enquanto seguimos na incompletude humana, buscando sempre a parte que nos falta.

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