Crônica do Dia

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Bye, bye conto de fadas

Por: Katia Muniz                                                       cronicaskatia@live.com

 Era uma festa de aniversário infantil.

Havia uma profusão de fotógrafos, gente filmando, palhaços, mágicos, recreadores e um séquito de garçons. De longe, vi a mãe da aniversariante vindo em minha direção.

Após os cumprimentos de praxe, fui encaminhada a uma mesa onde permaneci ao lado de gente que não conhecia. Dois dedinhos de prosa com uma mãe sentada à minha direita, mais dois dedinhos de prosa com a mãe da esquerda e the end. Fui fazer o que gosto: observar. Percorri o salão, encontrei alguns conhecidos, até ouvir uma voz ao microfone anunciando que começaria o desfile.

O DJ tocou o que vinha bombando nas pistas de dança, enquanto a aniversariante abria o desfile. Estava linda! Maquiada, com um vestido longo, cabelo preso num penteado caprichado. Era a Gisele Bundchen num tamanho reduzido. Logo depois, uma a uma as amiguinhas adentravam o salão com desenvoltura e intimidade com a passarela. E eu jurei que elas passaram os seus oito anos de vida fazendo isso.

E por onde andavam os meninos, nessa altura do campeonato, ou melhor, do desfile?

Estavam TO-DOS vestidos normalmente, e fazendo o quê? Brincando. Totalmente alheios ao mundo fantasiado das meninas. Enquanto elas participavam do desfile individual, eles pulavam na cama elástica. Enquanto elas posavam para fotos, eles brincavam no escorregador. Enquanto elas estavam maquiadas e penteadas, eles estavam descabelados e suando em bicas. Enquanto elas rodopiavam com seus vestidos maravilhosos, eles rodopiavam no gira-gira. Enquanto elas disputavam espaço para ver quem mais se sobressaia, eles brincavam de cabo de guerra.

Elas são meninas, eles são meninos. E vivam as diferenças!

Não deve ser tarefa fácil lidar com todo esse imaginário fértil de conto de fadas. As meninas não se contentam mais em ouvir as histórias, agora é preciso vivenciá-las.

Quem vai contar a elas que o príncipe não vem a cavalo? Que os homens preferem quatro rodas com freios ABS e os cavalos dentro de um motor bem potente. Que elas devem esquecer os personagens de príncipes com cabeleiras fartas. Homens, pelo menos boa parte deles, ficarão carecas com o passar dos anos. E se ainda assim, as meninas insistirem em serem resgatadas de alguma torre, é bom orientá-las que há homens que fazem isso, mas não são príncipes. São bombeiros, que arriscam suas vidas para salvar outras tantas e pior: não são bem remunerados para isso.

A realidade passa longe do conto de fadas. Cedo ou tarde elas saberão.

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