Saudosismo

1997 - Get Dancing - frontPor: Katia Muniz

O programa “The Voice Kids”, que se encerrou no domingo de Páscoa, alavancou a audiência da emissora e nos trouxe um certo alívio em tempos tão difíceis. Não só pelo momento político conturbado em que vivemos, mas por nos mostrar a riqueza de talentos que se encontram espalhados por esse Brasil afora, além de nos dar a esperança de poder, enfim, ouvir música de qualidade.

Faz tempo que a produção musical, por essas paragens, vem em declínio. Não dá para generalizar, mas anda cada vez mais difícil separar o trigo do joio.

De gente que não consegue alcançar notas, de desafinação, de letras pobres em conteúdo, refrões pegajosos feitos para durar um verão e de pseudocantores que nascem do dia para a noite, já estamos cheios.

Na falta de algo que nos faça pulsar é comum encontrarmos algum alento em programas do passado. O canal pago “Viva” veio para preencher esse vazio.

É uma delícia ver “O Cassino do Chacrinha”, “O Globo de Ouro” e as novelas que marcaram uma época.

Repare que basta mencionar os anos 70 e 80 para que haja um burburinho.

Temos saudades de quê?

Do globo brilhante pendurado no teto, das luzes coloridas no chão, das discotecas, dos vinis, dos shows sem nenhum glamour.

Dos bailinhos, das matinês dançantes, das festinhas americanas, dos clubes, dos embalos de sábado à noite.

Temos saudades do Raul, Cazuza, Cássia Eller, Cindy Lauper, Madonna, Duran Duran, Kid Abelha, Metrô, Legião Urbana, ABBA, RPM, Biquíni Cavadão, A-Ha, Lionel Ritchie, Tina Tuner.

Sentimos falta da ingenuidade que se perdeu, da nossa juventude que ficou para trás, da vontade absurda de estar lá, naquela época fantástica.

Geralmente, não desperdiçamos as chances que nos são apresentadas de poder reviver aqueles momentos. Sentimos falta de alguma identidade, nessa onda fugaz e descartável que assola os dias atuais.

Nos anos 90, os “Mamonas Assassinas” surgiram com músicas que, para alguns, foi o primeiro sinal de uma decadência musical. Ainda assim, era possível dizer o que se pensava. Dinho, o vocalista, cantava “Robocop Gay” com ares de menino arteiro. Ninguém arrepiava os cabelos. Papais, mamães e as crianças eram fascinados pela banda. Não havia patrulha, não havia o politicamente correto. Hoje, possivelmente, o vocalista não abriria a boca. Estaria engessado no seu processo de criação e, muito provavelmente, o grupo todo estivesse atolado em processos.

Então, a gente tende a correr para o que nos promove algum revival, pois, no andar da carruagem seguimos de modo intranquilo e desfavorável.

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