Crônica do Dia: Precaução

Por: Kátia Muniz

Fui tomar café na casa de uma amiga. Erámos quatro, mas a anfitriã exagerou, fazendo um banquete como se fosse receber umas trinta pessoas. Sobrou muita coisa, claro. Ao final, ela veio com a frase: “Cada uma vai levar um pouco desses salgados, pois não poderei ficar com tudo isso”. E sumiu em direção à cozinha. Logo,apareceu com quatro potes de tupperwares recheados de coxinhas, rissoles e empadinhas. Continue lendo

Crônica do Dia: Em bando

Por: Kátia Muniz

Assistia a uma entrevista com a consultora de moda, Regina Martelli, quando ela me sai com essa frase: “Quando a gente viaja para fora, você está representando o seu país”. Regina falava sobre comportamento e o quanto ele pode afetar, de modo generalizado, e denegrir a imagem de uma nação. Exemplo: um brasileiro que comete uma grosseria em outro país. Um só comete o ato, mas a má fama, inevitavelmente, acabarespingando nos demais, ou seja, viramos brasileiros grosseiros. Continue lendo

Crônica do Dia: Mulher detalhista

Por: Kátia Muniz

84828-voce-sabe-que-tipo-de-mulher-quer-ser-1080x641Meu amigo, permita-me dar um conselho: não se apaixone por uma mulher detalhista.

Desconsidere o alerta, caso você também seja um. Se não, fuja enquanto é tempo!

Mulher detalhista tem olhos de lince, enxerga o que ninguém mais vê. Percebe minúcias e vai gastar horas analisando as frases que você disser. Continue lendo

Crônica do Dia: Jeito de ser

Por: Kátia Muniz

lagrimas_1Desconfio que, durante a linha de montagem, não nos equiparam com amortecedores. Recebemos os golpes e as intempéries da vida de frente. Por um momento, parecemos fortes em relação a isso. Mas não se engane. Desmontamos fácil, fácil. Muitas, em público mesmo, sem nenhum pudor em verter as lágrimas. Outras, dão-nos a impressão de serem mais enrudecidas. Pura fachada. Só não gostam que a plateia as veja borrar a maquiagem. Represam o choro durante o dia e o liberam à noite, quando estão sozinhas, encharcando e amarrotando o travesseiro.

Falar é o verbo que mais sabemos conjugar. Deslizamos com desenvoltura em todos os tempos e modos verbais. Definitivamente, não nascemos para o laconismo. Não economizamos no vocabulário. Gastamos, sem dó nem piedade, as conjunções: e, mas, ou, logo, como, porque, pois, que. Somos todas doutoradas em fazer ligações nas frases. Temos sequências delas prontas, na ponta da língua, esperando a oportunidade do voo livre. Puxe conversa e se prepare para a avalanche de expressões.

Um resumo de nós? Esqueça. Somos excessos. Uma única versão é capaz de carregar dentro de si outras tantas. Todas habitando o mesmo condomínio interno, que ora explode e ora se torna mais amável. Mulher é, e sempre será, uma caixinha de surpresas.

Por volta dos 12 e 13 anos, nosso corpo dá sinais de aerodinâmica, ganhamos curvas e uma nova moldagem.  Viramos escravas dos sutiãs e dos absorventes, enquanto as inseguranças nos acompanham em cada olhada no espelho. Algumas, insatisfeitas, turbinam itens de séries.

Aceleramos. Ganhamos velocidade. As mais intensas, geralmente, esquecem de fazer as revisões nos freios. Não sabem direito a hora de parar. Seguem em alta voltagem, usando a capacidade máxima do motor. Acidentes acontecem, é claro. Batem de frente com um amor, acumulam frustrações e desilusões, recebem multas por imprudências. Mas não param. No máximo, um pit stop no salão de beleza, que é onde costumamos azeitar as engrenagens para seguir em frente.

Afivelamos o cinto e seguimos porque a estrada costuma ser longa. Para aliviar o percurso, que hajam muitos porta-trecos. Adoramos um espaço para exercitar nossa capacidade infinita de preenchê-los. Um batom aqui, as chaves da casa ali, o controle do portão acolá, um espelhinho a mais, confirmando que só o retrovisor não nos satisfaz.

Enquanto estamos em movimento, não há motivo para preocupações. O sinal de alerta deve soar quando a gente silencia, quando o motor dá indícios de desgaste.

Nosso silêncio costuma ser a maior evidência de que estamos precisando de um recall.

Crônica do Dia: Libere espaço

sddefaultPor: Kátia Muniz

Todo final de ano, eu sigo o mesmo ritual: promovo uma grandiosa faxina na minha casa.

Abro armários, vasculho cantos, remexo caixas, reviro pertences. Decido: isso segue comigo, essas roupas podem servir para doação e tudo isso aqui, lixo. Xô! Continue lendo

Crônica do Dia: O bem e o mal

Por: Kátia Muniz

O-lado-bom-e-ruim-de-cada-signo-1Lembro-me, ainda com pouca idade, ouvir que o bem sempre vence o mal. As histórias infantis, enfaticamente, retratavam as personagens do bem se debatendo em vários capítulos, lutando contra os vilões. Mas o término sempre enaltecia o bem, que ressurgia cheio de forças e com finais felizes.

Fui crescendo e percebendo que vilões também saltavam da ficção e se materializavam na vida real. O mal rondava, mantinha-se à espreita, era preciso manter-se atenta. Continue lendo

Crônica do Dia: Sarau Cultural

katia-muniz2Por: Kátia Muniz

A tarde do último dia 21/10 poderia ter sido como outra qualquer. Aquelas tardes típicas em que a gente acaba fazendo a mesma coisa de sempre, presos a uma rotina que muitas vezes engloba estudo, trabalho e um olhar voltado para o nosso individualismo. Poderia, mas não foi.

O Rotaract Clube de Paranaguá Rocio resolveu chacoalhar qualquer monotonia e promoveu o Primeiro Sarau Cultural com o objetivo de valorizar a arte local em diversas áreas como: literatura, música e dança. Continue lendo

Crônica do Dia: Tudo bem

can-stock-photo_csp2433659Por: Kátia Muniz

– Está tudo bem contigo?

– Sim. Tudo bem.

Não. Não está.

Suas olheiras estão encostando no pé. Seu rosto denuncia cansaço. E o sorriso esboçado não condiz com a afirmação dita.

Claro, não convém retratar nossos problemas a cada um que nos pergunta se estamos bem. Não devemos ficar nos lamentando. Não pega bem reclamar de tudo e de todos.

Mas, aí é preciso combinar com o ator ou atriz que mora dentro de nós. Precisamos representar, convencer a contento. É necessário que o que sai da nossa boca também reflita, pelo menos, na nossa aparência e no visual.

Está tudo bem, mas você chora a noite antes de dormir.

Está tudo bem, mas você não se reconhece no espelho.

Está tudo bem, mas sua saúde não é das melhores.

Está tudo bem, mas cinco minutos atrás você xingava no trânsito.

Está tudo bem, mas a empresa que você trabalha está fazendo corte de funcionários.

É fantástico quando a pessoa consegue separar os problemas. Problemas do trabalho, ficam no trabalho. Problemas de casa, ficam em casa. Algumas possuem essa habilidade, outras adquirem com o tempo, e outras não dão para a coisa, misturam tudo, fazem um auê por qualquer motivo.

Não se lamente, mas interprete, dirija a si mesmo, encare a personagem. Muitas vezes é um recurso necessário.

Porque pior do que não saber representar é mentir pra si mesmo.

Encenamos, decoramos nossa fala, nos dirigimos.

Escolhemos o que queremos mostrar para consumo externo. O resto a gente guarda, esconde. Não há tomografia que detecte as nossas dores internas.

Não resolve sopro de mãe. Aquele mesmo sopro que ela deva no machucado dizendo que já ia passar. E passava. Agora não passa, dói, machuca, arde, dilacera.

Nossos gritos internos incendeiam, ganham propulsão, mesmo que nossa fala insista em dizer que está tudo tranquilo.

Há sempre alguma dor escondida por trás de um “tudo bem”.