As chatonildas querem ordem no recinto. Crônica do Dia!

Chatices de mãe                                      Por: Kátia Muniz

MÃE CRÔNICA VALENDOO menininho estava agachado, num canto, com a cara emburrada. Levou as mãos ao rosto e secou umas tímidas lágrimas.

Aproximei-me: “O que houve com você?”

E a resposta veio de bate-pronto: “Ah, tia! A minha mãe é uma chata. Ela nem me deixa jogar no computador”.

Abandonei o piá do mesmo jeito que o encontrei, queria mesmo era encontrar a mãe dele. Precisava dar um abraço nela, ser solidária com a sua dor, dividir algumas aflições. Ela é da mesma espécie que eu, chata como eu, ou como todas nós, que fomos alçadas à maternidade.

Generalizei? Que nada, é a voz do senso comum.

Você aí, filho ou filha, tão incompreendidos nessa vida ingrata, me diga, com toda a sinceridade, quem na sua casa costuma dizer essas frases: “apague a luz, faça a tarefa, escove os dentes, penteie esse cabelo, lave esse tênis imundo, não deixe a roupa espalhada, arrume a cama, leve um agasalho, largue esse celular, junte os brinquedos, não fale alto, não coma de boca cheia, use o guardanapo, comporte-se”.

Posso ouvir, em coro: a mãe!

A mãe que, ao parir também descobre a verdadeira utilidade dos verbos no imperativo. E, pasmem, costuma usá-los o resto de sua vida.

A mãe costuma ser a chata de galochas, a chata de salto quinze, a chata maquiada, a chata descabelada, a chata que trabalha fora, a chata que trabalha dentro de casa, a chata que faz a patrulha.

Com essa chatice toda é ela que, geralmente, põe a casa para funcionar e faz a roda girar.

“Mamãe vai viajar a trabalho”. Os demais integrantes da casa recebem a notícia com uma euforia contida. Ela nem bem bateu a porta direito e todo mundo esquece que existe chuveiro, tratam de aposentar as escovas de dentes e as roupas se acumulam sujas, na área de serviço. Papai se esforça, mas faz um arroz grudento que ninguém aguenta mais. “Pai, quantos dias faltam para a mamãe voltar?”

Eis que a mamãe querida gira a maçaneta anunciando a sua chegada triunfal. Ainda entre abraços e beijos ela já dá início a lista dos famigerados verbos no imperativo.

As chatonildas querem ordem no recinto. Cuidam para que tudo funcione no eixo. Não baixam a guarda, exigem, cobram, entregam-se.

A chatice toda costuma ser mal interpretada. Mas é preciso que ajustemos o foco.

Por incrível que pareça, isso também se chama amor.

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