Por: Katia Muniz
Meu filho passou a mão no telefone e ligou para o amigo. A conversa foi rápida. No final, conferiu no painel digital do telefone para saber quanto tempo levou para concluir a proeza. Veio faceiro me contar o resultado:
– Mãe, levamos 25 segundos para combinar o passeio. Por que será que as mulheres falam tanto?
Logo para quem ele veio perguntar! Nem que eu viva duzentos anos, saberei responder a essa pergunta.
Poucos dias atrás, combinei com uma amiga um cineminha. A sessão era à noite, mas, ainda assim, gastamos o dia tentando definir qual dos dois filmes em cartaz iríamos ver e, ao anoitecer, as mensagens no WhatsApp se intensificaram. Lembro bem, a última que passei para ela: “Tô saindo de casa”.
Aleluia!
Antes de começar o filme, ríamos e falávamos sem parar. Durante o filme, fazíamos comentários em sussurros, mas manter a boca fechada era algo dificílimo.
O amigo de longa data veio me visitar. Fazia quatro anos que não nos víamos. Deve ter saído zonzo e querendo me reencontrar somente daqui a duas décadas. Falei o dia todo. Afinal, como é que se atualizam quatro anos de ausência? As histórias eram muitas, as recordações do tempo do colégio eram hilárias e o blá-blá-blá correu solto.
Eu em resumo? Esqueça.
Os mais ligados a mim penam com a minha verborragia incansável.
Meu marido costuma me olhar fixo enquanto eu conto uma história. Posso imaginar o cérebro dele catando as palavras-chaves que possam sintetizar a minha ladainha, as demais ele descarta, considera excessos. Conecta-se somente naquilo que é relevante, o restante, xô, deleta.
Meus e-mails parecem cartas. Meus relatos cotidianos são longos. Minhas mensagens em áudio costumam englobar muitos minutos.
Sou assim. Em 25 segundos não consigo dizer nem meu nome completo.