O município que enfrentou a pior epidemia de dengue de todos os tempos no Estado está se mobilizando para vacinar quase 92 mil pessoas contra a doença. Paranaguá concentrou o maior número de casos e mortes do Paraná no último período epidemiológico, de agosto de 2015 a julho de 2016. “Buscamos o apoio de líderes e formadores de opinião da cidade para que assumam seu protagonismo e incentivem os cidadãos a se vacinarem contra a dengue. O que não podemos permitir é que Paranaguá passe por mais uma epidemia”, afirmou o diretor-geral da Secretaria estadual da Saúde, Sezifredo Paz.
No período epidemiológico 2015/2016, Paranaguá foi responsável por 15.779 confirmações de dengue. O valor representa 28% dos casos confirmados em todo o Paraná. A situação fez com que o Governo do Estado buscasse outra ferramenta, além das ações ambientais, para evitar a mesma situação nas próximas estações.
“Um município de apenas 134 mil habitantes não pode concentrar uma porcentagem tão grande de casos em um Estado com uma população de 11 milhões de pessoas. Estamos realizando um trabalho intenso para não deixar essa situação se repetir”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde, Cleide de Oliveira.
VACINA – A vacina da dengue em Paranaguá está disponível para pessoas de 9 a 44 anos até 3 de setembro em sete pontos: Unidade de Saúde (US) do Araçá; US da Vila Garcia; US da Serraria do Rocha; US Rodrigo Gomes, na Ilha dos Valadares; Centro de Referência da Dengue, na Baduca; Centro Municipal de Diagnóstico João Paulo II; e Secretaria Municipal de Saúde, na Av. Gabriel de Lara.
ADESÃO – Apesar do susto que a dengue causou na cidade, a adesão à vacina ainda está abaixo do esperado pela Secretaria de Estado da Saúde.
“A impressão que dá é que as pessoas esqueceram todo o sofrimento que a doença causou e não estão mais tão preocupadas. A população precisa lembrar que só aqui no município tivemos 29 mortes por dengue”, diz a diretora da 1ª Regional de Saúde, Ilda Nagafuti.
Quem não esqueceu o que viveu no início do ano foi a enfermeira Marilene de Oliveira. Ela trabalhou no Centro de Referência da Dengue durante o pico da epidemia. “Após tantos anos de profissão, nunca vi tanta dor. Já no primeiro caso que peguei, mesmo com toda a assistência, vi um filho perder a mãe por dengue”, relembra ela.
ESTRATÉGIA – Outro motivo que pode justificar a baixa adesão é a faixa etária contemplada pela campanha. “As pessoas que devem tomar a vacina fazem parte de um grupo que não costuma buscar os serviços de saúde, por isso organizamos 15 equipes volantes para levar a vacina até a população”, diz a chefe do Centro estadual de Epidemiologia, Júlia Cordellini.
A Secretaria de Estado da Saúde, em parceria com a Prefeitura de Paranaguá, adotou uma nova estratégia. Desde a semana passada, grupos estão indo até as escolas para esclarecer dúvidas e vacinar. “Na primeira experiência, fomos a um grande colégio estadual e os adolescentes fizeram perguntas bastante pertinentes. Com as dúvidas sanadas, os alunos desceram em massa para se vacinar”, afirma Júlia.
Uma parceria também foi fechada com a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap). A instituição está indicando empresas com grande número de funcionários que façam parte da faixa etária que deve receber a vacina para que as equipes possam ir até o local.
“O comércio de Paranaguá sentiu muito a epidemia de dengue, principalmente o segmento de turismo. No auge do verão, quando costumava aumentar o movimento em restaurantes e hotéis, houve uma grande evasão. Vamos auxiliar na campanha e esperamos que o parnanguara faça fila para se vacinar, porque a dengue mata”, enfatiza o presidente da Aciap, Arquimedes Anastácio.
COMUNIDADE – Para dar o exemplo, o presidente da Aliança dos Presidentes de Associações de Moradores e Lideranças Comunitárias de Paranaguá, Marcos Alves, já foi se vacinar. “Fui me vacinar e também levei meu filho. Aquele que ama sua família e sua comunidade deve incentivar a vacinação. Estou engajado com a causa, pois Paranaguá não merece sofrer como já sofreu”, diz.
A Câmara Municipal de Paranaguá recebeu a equipe da Secretaria da Saúde na sexta-feira (19). Foram discutidas outras estratégias para atingir a população do município e agendados pronunciamentos em sessões com os 17 vereadores que representam a cidade.
Líderes religiosos católicos e evangélicos também estão comprometidos em auxiliar na vacinação contra a dengue. Em reunião com representantes da Secretaria da Saúde, o bispo de Paranaguá, Dom Edmar Peron, autorizou a aplicação da vacina em aulas de catequese e garantiu que irá incluir anúncios sobre a campanha nas missas de paróquias da região.
“Estamos trabalhando intensamente para mudar o cenário da dengue no Estado. Para isso, precisamos que as pessoas se vacinem. Imunizando o público-alvo da campanha com as 500 mil doses da vacina compradas pelo Governo do Estado, vamos conseguir diminuir a circulação do vírus e, indiretamente, proteger toda a população. É um ato de solidariedade”, ressalta Cleide