Crônica do Dia: Mais uma do Face

cortar-salvar-foto-perfil-facebookPor: Kátia Muniz

No supermercado, cruzou comigo e não me reconheceu. Não que tivéssemos alguma intimidade, mas, esses dias, recebi dela uma solicitação de amizade, via Facebook. Achei que pela minha foto de perfil, ela me reconheceria.

Eu, que tenho memória fotográfica, identifiquei-a de imediato. Abri um sorriso largo que murchou um segundo depois ao perceber que fora negligenciado.

Contei o episódio para uma amiga e ela me veio com essa: “É normal. Fotos de perfis, no Face, geralmente, recebem uma melhor atenção, um trato. Mas, no dia a dia, a realidade é outra”.

Para isso também servem os amigos: dizer verdades.

Fui averiguar o meu perfil e xeretear outros tantos. Descobri que a galera facebookiana gosta de caprichar. Nos perfis, somos capas de revista.

Cabelo ajeitado, mulheres maquiadas, melhor ângulo, melhor pose e estamos prontos para receber os “likes”.

A realidade é crua. O dia a dia faz você suar com o sol escaldante, faz você bocejar na fila do banco, faz você prender o cabelo de qualquer jeito porque está atrasada, faz você andar com pressa, faz você esquecer-se de retirar o esmalte descascado das unhas, faz você ficar com a cara séria pensando nos inúmeros compromissos, faz você ser você.

Todo mundo é assim? Não. Tem gente que sai para trabalhar como se fosse a um baile de debutantes, mas ao final do expediente de um dia exaustivo, não há produção que resista. Às dezenove horas estamos todos amarrotados.

Então, um belo dia, aquele em que a gente acha que nasceu para brilhar e sacudir o cabelão num comercial de xampu, tiramos uma foto legal e tascamos no perfil.  Foto não paga conta, não corre para pegar o ônibus, não marca consultas, não leva os filhos para os inúmeros compromissos, não corre para lá e para cá, não se movimenta. Olha que lindeza que estamos!

Somos felizes no Facebook que é um lugar onde a realidade não recebeu convite para entrar. Lá a gente pode se exibir nas fotos com filtros. Retocamos imperfeições e colocamos a autoestima nas alturas. Se não nos reconhecem, quero acreditar que seja por pura distração. Mas pensando bem, não precisam reconhecer. Deixem que fiquem com a versão melhorada do nosso ângulo fotográfico. Cheguei à conclusão de que realidade demais exaure a beleza de qualquer um.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *