Gravações de conversas mostram como chefe do tráfico comandava os negócios de dentro da cadeia

Ligações de chefe do tráfico no Litoral do Paraná, preso em Piraquara, foram monitoradas por seis meses e levaram 10 pessoas à cadeia

polícia someUm preso da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, conseguiu manter um celular dentro da cadeia por seis meses. As ligações que ele fez nesse período foram gravadas, com autorização judicial, e ajudaram a polícia a prender 19 pessoas.

Rafael Rodolfo de Castro, conhecido como Some, é acusado de chefiar a distribuição de maconha e crack no Litoral do Paraná, parte de Curitiba e de Santa Catarina. Ele tem 33 anos de idade e cumpre 39 anos de prisão, pelos crimes de roubo e tráfico de drogas. Confira algumas conversas:

Nas gravações, Some aparece dando ordens e cobrando dívidas do tráfico. Tudo foi monitorado em uma ação controlada, em que a polícia sabia da existência do celular e das atividades ilícitas. No entanto, com as informações, foi possível monitorar o caminho da droga e também o funcionamento da quadrilha.

Em uma das ligações, Some aparece dando ordens a um comparsa, que está fora da cadeia. Eles conversam sobre o pagamento de um transporte para as drogas. Segundo a polícia, o interlocutor é o braço-direito do traficante no comando da quadrilha.

Some — Oh, explicar para o senhor entender. Nós vai (sic), nós tem (sic) que pagar o resto que ficou devendo para o homem lá. E dependendo do tanto que o senhor arrecadar, aí nós manda (sic) um dinheiro pra segurar uns 20 kg de uma boa aí, que vai mandar pro senhor aí pra baixo, que já tá com nóis (sic) aí.

Suspeito não identificado 1 — Então tá bom.

As pessoas que entraram em contato com o traficante também foram monitoradas. Em outra gravação, o mesmo homem que aparece falando com Some sobre o pagamento do transporte reclama com um segundo suspeito de que tem alguém vendendo drogas no mesmo local que ele. O homem chama o ponto de “biqueira”.

Suspeito não identificado 1 — E outra coisa… Desde aquele dia, ele não pega mercadoria minha e ele tá vendendo lá na minha biqueira. Ele tem que trabalhar com a nossa mercadoria, não com a mercadoria de Curitiba.

Suspeito não identificado 2 — Não, com certeza.

Depois dessa ligação, Some é avisado sobre o problema no ponto de venda da droga e diz que vai tomar providências.

Some — Aí, eu vou ver se ele não arruma uma piazada, uns cara bom (sic) pra ficar perto do senhor, aí pra esses cara (sic) não fazer maldade, que esses cara (sic) cresce os olho (sic) , véio (sic), você sabe como é que é.

O traficante é considerado violento pela polícia. Em uma outra ligação, ele faz ameaças a um devedor.

Some — É o seguinte, mano: ele ficou de me pagar, ele tá me devendo 25 mil e não me paga, só fica mentindo pra mim, metendo o louco em mim, aí mano… Nóis é bandido (sic), cara. Essas fita (sic) aí, nós não vai (sic) aceitar não. Pede para ele não correr de nós, não, pra ele dar uma ligada aqui em mim, aqui.

Interlocutor não identificado — Tá bom.

De acordo com a delegada Daniela Ceconello, as ligações ajudaram a montar a operação. “Conseguimos identificar essa cadeia criminosa, que está em volta dele, que dá sequência ao tráfico de drogas e prendê-los, tirá-los de circulação, apreender a droga que ele comercializava. Isso já enfraquece essa organização criminosa que ele alimenta”, diz.

Ainda de acordo com ela, o principal desafio agora é evitar que o traficante consiga novos aparelhos celulares dentro da cadeia. “Uma ou duas vezes, os agentes carcerários conseguiram interceptar drones. Ele pedia, solicitava que pessoas de fora da penitenciária enviassem celulares através de drones”, conta.

Já a Secretaria de Segurança Pública diz que vai pedir à Justiça para que Some cumpra o restante da pena em um presídio federal de segurança máxima. “As características que esse indivíduo tinha, como chefe da quadrilha e membro faccionado de uma organização criminosa justifica o pedido de transferência dele para um presídio federal de segurança máxima, para que a gente possa interromper de vez a participação dele na organização criminosa”, explica o secretário Wagner Mesquita.

A defesa do traficante não foi localizada para comentar a reportagem.

Fonte: G1 Paraná.

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