Por: Kátia Muniz
Assistia a uma entrevista com a consultora de moda, Regina Martelli, quando ela me sai com essa frase: “Quando a gente viaja para fora, você está representando o seu país”. Regina falava sobre comportamento e o quanto ele pode afetar, de modo generalizado, e denegrir a imagem de uma nação. Exemplo: um brasileiro que comete uma grosseria em outro país. Um só comete o ato, mas a má fama, inevitavelmente, acabarespingando nos demais, ou seja, viramos brasileiros grosseiros.
Estou nessa introdução toda porque quero comentar o infeliz episódio, envolvendo alguns brasileiros na Copa da Rússia. Eles ladearam uma linda mulher e gravaram um vídeo em alto e bom som fazendo-a repetir uma frase curta, porém capaz de provocar revolta e indignação naqueles que carregam consigo o mínimo de bom senso.A moça, por sua vez, sem o conhecimento do idioma e da tradução, entrou na onda e foi repetindo a frase, no embalo da euforia e algazarra. O vídeo corre solto nas mídias, você pode conferir, caso ainda não tenha visto essa barbárie.
Fiquei espantada não só com o conteúdo gravado, mas também com os comentários enaltecendo a atitude dos protagonistas e achando graça da situação.Essa gente está rindo do quê?Desde quando humilhar o outro é motivo para exaltação?Copa do Mundo, festa, bebedeira. Prato cheio para se pisar na bola.
Muitas pessoas estão interpretando o vídeo como uma brincadeira. Não é. O negócio é sério e vergonhoso. Brincadeira é quando se conhece as regras, sabe-se o que vai se desenrolar e aceita-se. Ela não sabia o que estava falando. Foi alvo do bando. Aliás, cheguei numa parte que merece destaque: o bando.
É possível que, quando uma pessoa está sozinha, ao tentar colocar em prática algo desprezível, a consciência acuseo erro e haja um recuo. Já em bando, essas pessoas se sentem protegidas, fora do alcance, livres, impunes. Em bando, ganha-se força, vulcaniza-se, não se mede o ato, a coragem aflora.
O bando, nesse caso específico, vestido de verde e amarelo, teve como alvo uma mulher estrangeira, sem o mínimo de parentesco com qualquer um deles. Tenho certeza que, com uma mulher em que houvesse algum laço afetivo, jamais fariam o que fizeram. É aquela clássica situação: com as outras tudo bem, mas com a minha ninguém mexe.
A cena foi lamentável, deplorável, triste, horrenda, suja, repreensível, reprovável, execrável, indecente … em que mais uma mulher foi vítima. Mais uma história para se somar a tantas enfrentadas todos os dias. Sou do gênero e não acho nada fácil ser mulher em uma cultura altamente machista.
Cresçam, meninos! Deem exemplos positivos. O Brasil por si só já entrega de bandeja um arsenal de notícias indignas aos jornais do mundo. Desnecessário esse reforço.