Grupo de queixadas é registrado em reserva natural no litoral do Paraná

Espécie ameaçada de extinção foi filmada por moradores do entorno da Reserva Natural das Águas, em Antonina

Moradores de Antonina (PR), vizinhos da Reserva Natural das Águas, gravaram um vídeo em que um grupo de queixadas se alimenta tranquilamente na área da reserva. O queixada (Tayassu pecari), também chamado de porco-do-mato, é uma espécie gravemente ameaçada de desaparecer das áreas do bioma Mata Atlântica.

O território ocupado pela espécie abrange grande parte da América do Sul e algumas áreas da América Central, mas a população tem diminuído rapidamente nas últimas décadas. Hoje, os queixadas já são considerados extintos em algumas áreas do Brasil. O biólogo Roberto Fusco, que coordena um projeto de pesquisa e monitoramento de grandes mamíferos na região, explica que a caça ilegal e a redução das áreas naturais são os principais fatores que levaram à redução do número desses animais na Mata Atlântica. “Em outra reserva natural do litoral do Paraná, a Reserva Guaricica, os queixadas estavam desaparecidos há pelo menos 30 anos e voltaram a ser vistos a partir de 2009”, comenta. O pesquisador acredita que a proteção de áreas naturais na região da Serra do Mar e, principalmente, a fiscalização contra a caça nessas áreas podem estar atraindo essas espécies de volta às unidades de conservação da Serra do Mar.

Uma das características da espécie é se reunir em grandes grupos, que podem chegar a 150 indivíduos. Esses grupos necessitam de áreas extensas e contínuas de vegetação nativa para sobreviver. Segundo a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), instituição que é proprietária de três reservas naturais na região – entre elas a Reserva das Águas e a Reserva Guaricica –, o trabalho de restauração de florestas também tem contribuído para trazer as queixadas de volta à região. O coordenador das reservas da SPVS, Reginaldo Ferreira, explica que, antes da criação dessas unidades de conservação, em 1999, a região era ocupada por fazendas de búfalos e pastagens, onde a caça de animais silvestres era comum. Isso acabou “empurrando” diversas espécies nativas para as encostas da serra. “O processo de restauração ecológica que foi realizado pela SPVS e o monitoramento contra crimes ambientais em parceria com o Batalhão da Polícia Ambiental, permitiu que esses animais começassem a descer. Hoje, é bem mais fácil avistar algumas dessas espécies nas planícies”, explica Ferreira.

Grande Reserva Mata Atlântica

O recente registro em vídeo de um casal de onças-pintadas na Serra do Mar, próximo à reserva em que os queixadas foram encontrados, chamou atenção para as espécies ameaçadas que têm voltado a ser encontradas no litoral do Paraná. Há 20 anos a região não tinha um registro documentado de onça-pintada. Para os especialistas, a presença dessas espécies destaca a importância das unidades de conservação que protegem remanescentes de Mata Atlântica.

Uma iniciativa lançada este ano pode beneficiar diversas espécies que, como os queixadas, precisam de grandes áreas protegidas para sobreviver. A Grande Reserva Mata Atlântica pretende unir instituições públicas, privadas e do terceiro setor pela proteção do último grande remanescente contínuo de Mata Atlântica. Com aproximadamente 1 milhão de hectares de áreas naturais não fragmentadas, a Grande Reserva Mata Atlântica abrange os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, conectando unidades de conservação já existentes e promovendo iniciativas voltadas à preservação do patrimônio natural e cultural da região da Serra do Mar.

O retorno de espécies ameaçadas para a região, como queixadas, onças-pintadas, guarás e os papagaios-de-cara-roxa, cria oportunidades de crescimento econômico para as populações locais, que são beneficiadas pela proteção do patrimônio natural. Um levantamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publicado em 2017 revela o impacto dos investimentos em conservação da natureza na economia dos municípios. Segundo a pesquisa, para cada real investido na conservação da natureza, sete reais retornaram para as economias locais em atividades ligadas ao turismo.

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