Crônica do Dia

kátia munizQue trazes pra mim?

Por: Katia Muniz                                                                   cronicaskatia@live.com

Lá pela década de 70, era bem diferente. Não havia grande oferta, nem a variedade de chocolates e de embalagens que há hoje no comércio.

pascoa-05 A criançada ganhava miniaturas de ovos, coelhinhos minúsculos ou ovos com tamanhos que não beiravam o exagero.

As mães costumavam comprar os ovos com alguma antecedência, cerca de uma semana antes, para não correr o risco de faltar, e colocavam os chocolates na geladeira para não derreter.

As crianças esperavam, pacientemente, chegar o domingo de Páscoa para abrir as tais guloseimas. Passavam a semana salivando. Era uma tortura cada vez que abriam o refrigerador, mas sabiam esperar.

Aquela era a semana mais longa das suas inocentes vidas. Sete dias, uma eternidade.

– Mãe, quantos dias faltam para o domingo?

– Cinco dias.

– Ainda!

O calendário não tinha pressa, os segundos se arrastavam e a vontade de comer os chocolates só aumentava.

Era só na época da Páscoa que a criançada se deleitava. No restante do ano, até ganhavam um bombom aqui e outro muito lá na frente. Por isso, era um momento tão aguardado e tinha o seu encanto.

Vamos saltar para o ano de 2014.

Gosto de ver a criançada de boca aberta, pescoço esticado, com olhinhos hipnotizados a contemplar o parreiral de ovos de chocolate que proliferam nos supermercados.

Enquanto se entregam os presentes de Natal, os coelhos já estão a todo vapor produzindo os ovos. E enquanto se pula o carnaval, os chocolates vão chegando ao parreiral de ferro.

Mariazinha, que acompanha a mãe duas vezes por semana no supermercado, ganha um pequeno ovo cada vez. Abre ali mesmo e o devora. Passa o resto das compras com o rosto lambuzado denunciando a façanha.

Rodriguinho, não gasta nem as palavras. Aponta para o chocolate escolhido, e, rapidamente, a gostosura salta para suas mãos, e de suas mãos para a boca.

As crianças ganham chocolates dos tios, dos padrinhos, dos avós, dos amigos, dos pais e de quem mais se propuser a agradá-las. Ganham também na segunda, na terça, na quarta, na quinta, na sexta, no sábado e no domingo. Tanto faz se são 8 horas da manhã ou se já ultrapassam as 22 horas. Todo dia é dia, toda hora é hora.

Sem ter a sensação da espera e sem se importar com a da data programada para a comilança, elas já não salivam tanto pelo chocolate em si, pois esse não lhe é negado o ano inteiro. A expectativa, agora, fica por conta do objeto que acompanha o ovo. Nada é mais emocionante e excitante para elas do que quebrar o chocolate ao meio e ver saltar dele uns bichinhos de pelúcia ou uns brinquedinhos esquisitos.

Elas são seduzidas pelo recheio, pelo acompanhamento, pelo que está oculto, encoberto. É ali que moram a curiosidade e o desejo.

Chocolate elas ganham e comem aos montes nos outros meses. A única diferença é que, nos bombons que fazem parte da sua infância durante o ano, não há os tais brinquedos escondidos.

Resta-nos saber até quando.

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