Crônica do Dia

kátia-munizPai de menina

 Por: Kátia Muniz                                                                          cronicaskatia@live.com

Primeira frase: “Meu amigo, está na hora de começar a engraxar a espingarda!”.

Outra: “Meu filho e sua filha se dão muito bem. Acho que vamos unir as famílias”.

Mais uma: “Pois é Alfredo, a Bia está crescendo, daqui a pouco vão começar a aparecer os teus cabelos brancos, na mesma proporção que surgirão os futuros pretendentes”.

É possível que os comentários acima não causem nenhuma inimizade, mas é indiscutível que geram um mal-estar daqueles nos pais de menina.

Essas frases são ditas geralmente por outros pais, (pais de menino, lógico), acompanhadas com tapinhas nos ombros, como quem no fundo pensa: “não vou precisar passar por isso”.

Desconheço pai de menina que leve, na esportiva, tais comentários. Há um esforço em tentar aceitar o curso natural da vida, porém o que se destaca é o sorriso amarelo, o desconforto, o jeito todo sem graça. Alguns ficam paralisados, sem reação, com a cabeça fervilhando em pensamentos.

Nada desarma mais um homem do que uma mulher, principalmente se ela, além de mulher, for sua filha.

Repare: pais carregando bonecas, pais fazendo rabos de cavalo, pais encaixando tiaras, pais entendidos de Poly e de Monster Hight, pais brincando de Barbie, pais segurando bolsinhas rosa, pais ensaiando coreografias para o aniversário de 15 anos de sua princesa.

São cenas lindas entre pais e suas filhas! São cenas em que o homem está totalmente entregue, sensível à alma feminina. Ele, aos poucos, vai entendendo e aprendendo a deixar para escanteio aquele lado mais rude, mais carregado de palavrões e começa o exercício diário dos ensinamentos dados por sua menininha em como ser um pai do sexo oposto. Sem bolas, sem pipas, sem lutas, sem carrinhos, sem companhia nos estádios.

Mas não se iluda: ela vai crescer, vai virar uma moça e vai fazer você viver o tão temido dia em que, acompanhada de um cara, lhe dirá a frase que retumbará por um longo período em sua cabeça:

– Pai, este é o Matheus, meu namorado.

Antes que você entre em pânico, entenda que esta é uma situação de desconforto para todos os envolvidos e que você já esteve, anos atrás, vivendo o mesmo papel que, agora, vive Matheus. Lembra? E por último: aceita, logo, que dói menos.

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