Crônica do Dia

kátia-muniz2Que país é este?

 Por: Kátia Muniz                                                                   katiacronicas@gmail.com

O Brasil é geograficamente lindo! Há praias paradisíacas, regiões serranas, chapadas, rios e uma imensidão de paisagens que fazem nossos olhos brilharem!

Infelizmente, não é só beleza que ele carrega.

Não havia ninguém em casa para assinar o protocolo de recebimento que o carteiro trouxe. Resultado: um aviso foi deixado dizendo para que a correspondência fosse retirada no depósito dos Correios.

Numa bela tarde de sol a pino formava-se uma fila quilométrica ao ar livre. Gente que poderia usar esse mesmo tempo trabalhando, produzindo, estudando, estava lá em pé, esperando ser atendida. Quem já precisou retirar correspondências neste local sabe bem do que estou falando. Com o calor do meio-dia derretendo os neurônios e a paciência, foi possível escutar de uma pessoa: – “Ainda bem que esperamos na sombra”.

Sempre estranhei essa aceitação passiva do pouco. De encarar tudo com normalidade.

Considero uma falta de respeito ter que esperar horas por qualquer prestação de serviço. Principalmente, os que estão relacionados ao serviço público. Uma vez que contribuímos com impostos exorbitantes, a contrapartida deveria ser, no mínimo, um local adequado e digno para o aguardo do atendimento. Em pé, seja na sombra, no sol, expostos a qualquer intempérie, com consumo de um tempo extremamente valioso, acho um absurdo vergonhoso!

Não basta ser um país lindo! É preciso poder olhar suas belezas com o vidro do carro abaixado sem ter o medo iminente de que no próximo semáforo seremos assaltados. É preciso frequentar as praias com a tranquilidade que o lazer requer e não apreensivos achando que em segundos estaremos no meio de um arrastão.

Não basta ser lindo e viver com grades de segurança nas janelas. Com câmeras de vigilância. Com o pavor de andar a noite.

Não engulo o sistema absurdamente precário de saúde. E me solidarizo com os médicos que atendem e tentam salvar vidas diante do caos e da falta de estrutura que se encontram os hospitais e postos de atendimento.

Jamais me descerá redondo a desvalorização dos profissionais da área de educação. Deveríamos, a eles, bater continência. São os professores que diariamente enfrentam salas de aula superlotadas, repletas de alunos com os mais variados tipos de problemas emocionais e educacionais. São eles que se doam para fornecer educação num país que não os reconhece.

Nunca vi com bons olhos esse sistema governamental de não poder reprovar. E sei que boletins com notas acima da média demonstram, muitas vezes, uma realidade que não condiz com a prática. Dói quando vejo adolescentes e jovens escrevendo errado. Dói quando vejo alunos despreparados sendo empurrados para os próximos anos. E sabe o que mais dilacera? Perceber o retrocesso.

Faço supermercado toda semana. Abasteço o carro. Compro roupas. Compro calçados. Pago luz, água, telefone. Em nenhum momento tenho a ilusão de que a inflação esteja controlada.

E se eu tivesse 55 anos, fosse economista formada, qualificada profissionalmente, sem conseguir me recolocar no mercado de trabalho e participasse de um debate televisivo na condição de eleitora indecisa, e ouvisse de qualquer futuro candidato a Presidência do Brasil que deveria fazer curso no Pronatec para conseguir emprego, saberia, no exato momento da resposta, reconhecer o terreno arenoso em que se transformou esse país.

Portanto, não faz parte de mim, digerir tudo que me é apresentado. Questiono, indago, enfrento.  Caio, levanto, tiro o pó deixado na roupa e prossigo.

Não foi esse Brasil que escolhi para educar o meu filho. Continuarei com a esperança de que ele mude e me compadeço daqueles que aceitam de bom grado esperar na sombra.

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