Crônica do Dia

kátia-muniz2Nas alturas

 

Por: Katia Muniz                                                                                 katiacronicas@gmail.com

 

Menos de um mês, depois da queda do avião da Germanwings, na França, entrei num voo. A viagem era curta, levaria apenas uma hora para chegar ao destino.

 

Check in feito, tempo bom, tudo tranquilo.

 

Decolamos. Avião lotado. Serviço de bordo sendo realizado.

 

Aparentemente, todos demonstravam tranquilidade, até o exato momento em que, o piloto cruza o corredor do avião em direção ao banheiro.

 

Os passageiros que estavam posicionados na janela esticavam o pescoço por cima das poltronas, enquanto os que estavam sentados nas poltronas do corredor inclinavam a cabeça para o lado. Todos os olhos voltados para a mesma direção: a porta da cabine.

 

Quem sobrou dentro daquela cabine? O copiloto.

 

Infelizmente, o cérebro buscava na memória o acontecimento trágico da França. Momentos de tensão, minutos congelados, tempo paralisado e sorrisos apreensivos tentavam disfarçar o desconforto.

Sabemos que acidentes de avião são menos frequentes que os provocados em estradas. Considerando as condições precárias das rodovias brasileiras, a opção aérea além de encurtar o tempo de distância até o destino, nos oferece a possibilidade de uma maior segurança.

A repercussão que causa uma queda de avião é gigantesca. O fato de envolver muitas pessoas ao mesmo tempo numa tragédia faz com que, momentaneamente, a gente venha a reconsiderar este tipo de transporte, mas se formos calcular os acidentes que ocorrem diariamente, somente em solo brasileiro, saberemos que o avião ainda é uma forma segura de se viajar.

Só tive medo de voar na primeira vez que entrei numa aeronave. A novidade, a ansiedade, a expectativa e um misto de emoções tomaram conta de mim.  Em todas as outras vezes, desconectei. Não há muito o que se fazer em caso de algum problema.

Confesso que eu também segui o balé coreografado das cabeças que acompanhavam atentas a volta do piloto à cabine. Nunca antes na história da aviação, uma ida ao banheiro, por parte do piloto, foi tão observada e cronometrada.

Andreas Lubitz, o copiloto que derrubou o avião, na França, queria ficar conhecido no mundo todo. Conseguiu. Mas para isso, levou um monte de vidas inocentes, dentro da sua insanidade.

No voo, que eu estava, o avião pousou tranquilamente no seu destino. Que eu saiba, nem o piloto, nem o copiloto viraram capa de revista por terem cumprido sua tarefa, sua missão.

Nos resta agradecer, mesmo que no silêncio interno de cada um, por alcançarmos o solo e nos acostumarmos que pilotos também vão ao banheiro.

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