Crônica do Dia com Kátia Muniz

kátia-muniz2Corações ocupados

Por: Katia Muniz

Fossem os dois livres, viveriam o amor na sua plenitude, no seu deslumbramento, na sua intensa vontade de se mostrar ao mundo.

Mas eis que o amor nem sempre respeita corações ocupados.

Há uma infinidade de pessoas com corações ocupados, o que não significa, em hipótese alguma, que estejam preenchidos.

Existem trincas nos corações ocupados. Desfilam por aí com suas lacunas, seus sulcos, suas fendas, suas brechas.

Um coração com fissuras reconhece outro.

E lá vem o amor bater à porta. Tocar a campainha. Clamar por entrar.

Lá vem o amor que não reconhece as regras de etiqueta. Que não espera convite. Que é espaçoso e folgado.

Lá vem o amor carregado de paixão, de desejo, de fantasias, de sonhos.

Lá vem ele para sacudir a vida monótona, sufocada em afazeres e responsabilidades.

Lá vem ele apresentando um outro mundo, uma outra vida, uma palheta de possibilidades.

Lá vem ele desnorteando a racionalidade, batendo palmas para os impulsos, festejando o brilho nos olhos.

Lá vem ele para fazer você levitar, ter taquicardia, transportar você para um espaço que reconforta, que traz o colo que há tempos era procurado.

Mas coração e razão são inimigos mortais.

Entram no ringue, disputam, batem, promovem dores, cicatrizes, machucados.

O juiz avisa que, dessa vez, a razão venceu.

E lá se vão os dois derrubando lágrimas no escuro, agonizando nas noites insones.

A razão puxa para a realidade, que é o palco dos corações mutilados.

Seguem. Cada um para um lado, sem poder soltar o grito interno que reverbera e habita os inúmeros corações ocupados.

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