Por: Kátia Muniz

Com os músicos já posicionados no palco, uma voz solicita, de maneira insistente, que todos desliguem os celulares. Trocando em miúdos: não era permitido filmar e tirar fotos sem a prévia autorização da produção. Tiraram o pirulito da boca das crianças, em pleno mês de outubro. Como é que a gente fica sem celular e sem contar para ninguém o que estaríamos prestes a vivenciar nas próximas duas horas?

Com um time de músicos para ninguém botar defeito e com atores ímpares interpretando, cada um deles, vários personagens, o musical vai contando a vida pessoal e artística de Cássia Eller.

E Cássia era Cássia. Aquela mistura toda de homem e mulher, de sonoridade, de intensidade, de gosto musical eclético, de ser vulcânica no palco e um poço de timidez fora dele, de encarar o público com veemência durante o show e de não saber olhar nos olhos das pessoas depois que tudo termina.

Cássia e suas facetas múltiplas. Ora recato, ora despudor. Ora grito, ora silêncio. Ora insegurança, ora destemor, ora bermuda larga, ora vestido florido na gravidez. Cássia não se enquadrava em um jeito único, era a diversidade que a compunha.

O musical é bárbaro, te arrasta, te suga, te devora, te sacode, te inquieta. É êxtase do início ao fim. Faz a gente esquecer que tem vida lá fora, é um mergulho na arte, na cultura e na deliciosa sensação de que somos capazes de sobreviver sem um celular em punho, entregues somente aos acontecimentos que se desenrolavam a nossa frente, sem a necessidade viciante de ter que registrar tudo. Acreditem: ainda é possível ter memórias e lembranças sem a obrigatoriedade de provas.

Não bastasse tudo isso, o espetáculo nos presenteia com a brilhante atuação de Tacy Campos, que é aquele achado no meio da multidão. Ela é de Curitiba, estava por lá cantando nos barzinhos até ser descoberta pela produção.

Tacy é um dínamo! A plateia paralisa quando ela solta o vozeirão. É Cássia invadindo o recinto.

Arrepia! Não de frio, mas de emoção.