Crônica do Dia

kátia-muniz2Outubro Rosa

 Por: Katia Muniz                                                                   katiacronicas@gmail.com

Em uma de suas entrevistas, Jô Soares comentou: “Eu não choro de tristeza, choro de emoção”. Toque aqui, Jô, somos dois. Na tristeza, me recolho, silencio. As emoções que vivo me fazem derrubar as lágrimas.

Fui visitar a Exposição Ártemis, aberta no início de outubro, na Casa Cecy. Com muita sensibilidade, a mostra retrata mulheres que passam ou passaram pelo tratamento contra o câncer de mama. André Alexandre assina as fotos e Paulo Ras, os poemas.

Com tranquilidade, repousei meus olhos, atentamente, em cada tela e não demorou muito para que eu os sentisse marejados.

Cada foto conversa com quem a observa. Nada de assuntos triviais: as imagens vão mais longe, nos sacodem por dentro e provocam um alerta.

Ninguém sai da exposição do mesmo jeito que entrou.

Explicitamente há um convite para olharmos com mais cuidado para nós mesmas, para nos darmos a devida atenção, para aprendermos a não superestimar problemas corriqueiros do dia a dia, para marcarmos uma consulta médica, para fazermos uma mamografia. Um exame indolor, pelo menos para mim, que pode detectar inicialmente algum sinal de anomalia.

Parei diante da foto da mãe que amamenta o filho. Um seio foi retirado. O outro está lá, fornecendo alimento, nutrindo uma nova vida. Ali fiquei, ali permaneci, ali me perdi no tempo. Também sou mãe, também sou da espécie. Uma mãe sempre entende outra mãe.

As modelos retratadas fazem parte do Instituto Peito Aberto, criado para dar apoio a pacientes com câncer de mama. Nos clicks, há mulheres contemplativas, mulheres sorrindo, mulheres que venceram a doença, mulheres que estão no meio da batalha. Cada uma com a sua história, com a sua bagagem, com a sua experiência, com a sua marca, com a sua mutilação, com a sua cicatriz, com seu corpo, com a sua força. Todas clamando pela vida.

São várias mulheres que, em algum momento, tiveram seus caminhos cruzados pelo mesmo diagnóstico. A dor as uniu, as fez darem as mãos, fez brotar uma união e ver nascer amor onde elas nem esperavam.

Observá-las nas fotos nos faz intuir vagamente o sofrimento pelo qual passam ou passaram. Porque a dimensão real de algo só é obtida pela vivência. Nunca sabemos de nada até que a vida nos coloque cara a cara com o enfrentamento. Olhando de fora, somos todos leigos.

A exposição segue aberta. Fotos, poemas, mulheres, guerreiras. A vida e sua mescla de alegrias e lágrimas. A vida e suas emoções!

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