Crônica do Dia. Saia da sua zona de conforto e leia!

katia 3A vida é muito maior do que parece

Por: Katia Muniz

Não todos, claro, mas há uma parte significativa de pessoas que esticou a rede à sombra e deitou-se sobre ela. Desfrutam do que a vida lhes entregou e, se está bom assim, para que mexer.

Nada é mais agradável nessa vida do que a nossa zona de conforto. Nela, costumamos nos adaptar com facilidade, com encaixe, sem muitos sobressaltos, sem grandes projeções futuras. Simplesmente tratamos de carregar os dias, mais ou menos iguais, na direção que o vento sopra e, se está bom assim, para que mexer.

Afinal de contas, mexer em algo que está quieto, pode fazer acordar uma palavra bem temida: mudança.

zonaMudar significa não só levantar da rede, mas se colocar em movimento em prol de algum sonho, anseio ou conquista. E toda mudança provoca burburinho: externo e, principalmente, interno. Porque é dentro de nós que o processo começa a ganhar corpo e forma. Mudar é lidar com o desconhecido, com o medo, com as dúvidas, com as inseguranças e com as incertezas que fazem parte do pacote. Preparados? Nem um pouco. Mas os que resolvem criar a coragem de girar a maçaneta da porta, que apresenta o novo caminho, costumam não se arrepender do ato.

Sei de muitas histórias de superação. De gente que não se contentou com a estrutura ou com o ambiente em que nasceu. Que soube desde cedo que era preciso ter muita dedicação e disciplina para ver o seu sonho realizado. Que entendeu que arriscar faz parte do jogo e que, se nada desse certo na primeira tentativa, pegava-se a experiência adquirida e a vontade de vencer e recomeçava-se a partida. Experiência e vontade costumam ser os dados que nos fazem pular várias casas.

Nem sempre é fácil, pois o ato de mover-se também requer abrir mão de certas coisas em benefício de outras. Às vezes é preciso enfrentar a cidade grande, abrir mão do convívio familiar, negligenciar as horas com os amigos. Alguns vão entender, outros farão cara feia, mas quem te ama vai sempre dizer para você seguir em frente.

“A vida é muito maior do que parece”.

A frase que dá título ao texto foi pinçada de uma linda mensagem que eu recebi de uma leitora. E uma vez catapultada para a coluna do jornal é porque mexeu, significativamente, com essa que vos escreve.

Quando a gente resolve se permitir ao novo e cortar as raízes que nos prendem ao chão, é mais fácil perceber que a vida costuma ser muito maior do que o metro quadrado que nos cerca.

Crônica: Esse tal passado

kátia-muniz2Por: Kátia Muniz cronicaskatia@live.com

Dizem por aí que não é bom revirar o passado. Que o que passou, passou. Que

devemos nos concentrar no presente e olhar para frente.

Depende. O passado nada mais é do que uma história construída de acordo com

nossas atitudes, decisões e escolhas.

Passado é escola, são lições com erros pontuados de caneta vermelha e acertos

seguidos de parabéns.

Passado inclui altos e baixos, riso e choro, alegria e tristeza, amores e dissabores.

O passado registra nossa infância, brincadeiras, o medo do escuro, perguntas

curiosas para deixar nossos pais de cabelo em pé, primeiros amigos, um mundo

gigantesco para ser descoberto, desbravado, explorado. Tudo é grande aos olhos dos

pequenos.

Em nosso passado, desfilaram amores, cartas, bilhetes, cartões, rosas, perfumes,

bombons, letras de músicas, primeiro beijo, declarações em alto e bom tom. Amores

que foram bons ou ruins enquanto duraram, mas que de alguma forma nos marcaram e

nos ensinaram algo.

Passado tem o gosto de conquistar o primeiro emprego, o primeiro salário. Tem

o gosto da responsabilidade, da liberdade, do começar a direcionar a vida do jeito que a

gente quer.

Passado envolve lembranças, segredos inconfessáveis, e um “eu” que fomos

moldando aos poucos.

O passado está nos porta-retratos, em álbuns, em diários e, para os mais

moderninhos, em pastas e mais pastas dentro de um computador.

Há passado guardado em caixas de papelão dentro de algum armário. Há o

primeiro sapatinho, as roupas do batizado. Há um brinquedo que resistiu ao tempo: uma

boneca sem o cabelo, um carrinho sem algumas rodas, devidamente salvos por algum

coração de mãe.

Não sei quantos anos você tem agora, no exato momento em que lê este texto.

Não faço a menor ideia do tamanho do seu passado. Passado pode ser coisa muito

antiga, acúmulo de décadas, mas pode ser o minuto que acabou de passar. Independente

do tempo transcorrido, passado é necessário.

Somos hoje o resultado do que fomos lá atrás. Porque passado e presente têm

essa mania de se misturar, de se fundir e de se integrar.

Passado está sempre batendo à nossa porta. Revisitando. Difícil não deixá-lo

entrar.

“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”, já dizia Mário

Quintana.

Crônica do Dia

kátia-muniz2Para você que eu tanto amo.

Por: Kátia Muniz                                                                            katiacronicas@gmail.com

Na infância, nunca levei muito jeito com bonecas, não tinha paciência para ficar dando comidinhas feitas com areia, nem para empurrar os carrinhos de plástico, usados para levar a boneca para passear.

Em compensação, gastava horas batendo numa folha de papel para que produzisse um som que lembrasse o de uma máquina de escrever, enquanto atendia, efusivamente, às chamadas imaginárias do meu telefone de brinquedo.

Eu era secretária executiva de uma grande empresa, tinha carro próprio e morava, sozinha, em um apartamento. Tudo isso aos 8 anos de idade. Minhas amigas, da mesma idade, estavam todas casadas com seus maridos de mentirinha e com duas ou três bonecas como filhas.

Muitos anos se passaram e, quando boa parte dessas amigas de infância tornaram-se avós, eu me tornei mãe.

Naquela sexta-feira, do mês de março, eu nasci para a maternidade dando à luz a você, meu filho.

Quando a enfermeira trouxe você, de banho tomado, com o cabelinho todo lambido para um lado, eu estiquei os meus braços e segurei você com aquele jeito que só as mães sabem.

E o botão da natureza humana foi ligado. De repente, eu sabia segurar, trocar fralda, amamentar. Não fez a menor falta a ausência do estágio com as bonecas.

Esses dias entrei no seu quarto, cuidadosamente, afastei os cabelos que caíam sobre a sua testa e depositei um beijinho carinhoso. Aquele beijinho que só as mães sabem dar.

Você abriu os olhos, resmungou um pouco e se levantou.

Eu fiquei olhando você se movimentar. Primeiro, até banheiro e, depois colocar o uniforme escolar e me perguntar o que eu serviria no café.

Café? Sim. Café. Não há mais as mamadeiras e, no lugar do berço, há uma cama, na qual daqui a um tempo, você, provavelmente, mal caberá. Aconteceu o que eu temia: você está crescendo.

Despediu-se de mim com um beijo. Aquele beijo que só os filhos sabem dar.

Fiquei sozinha, na inquietude dos meus pensamentos e remoendo todas as inseguranças de mãe, as mesmas que nos acompanham sempre, somente mudando as formas e as fases.

O cenário já se modificou. Não passo mais meus dias catando aviões, carrinhos da Hot Wheels, soldadinhos, que viviam espalhados pela casa. Minha sala retoma o seu posto, as almofadas permanecem no lugar, perdeu os ares de jardim de infância.

Nossos olhos, mais um pouco, já se nivelarão na mesma altura. E, mais para frente, será sua vez de abaixar seus olhos para que eles encontrem os meus.

Você vai adotando suas preferências, vai impondo seus gostos, vai ganhando autonomia. Tudo certo. Tudo normal. Estranharia se não fosse assim.

É preciso que você saiba: nunca perca a direção dos meus braços, eles sempre vão envolver você, como se fosse a primeira vez, daquele jeito que só as mães sabem.

Crônica do Dia com Katia Muniz

kátia-muniz2A educação chora

“O dia em que a má qualidade do ensino tirar votos, teremos uma mudança verdadeira no país”. Gustavo Ioschpe

Por: Katia Muniz                                                                                 katiacronicas@gmail.com

Falaria sobre a educação e sobre os professores em outubro, por conta do dia em sua homenagem, mas falo agora porque a classe-mãe de todas as profissões pede socorro.

No Paraná, os educadores continuam em greve, reivindicando seus direitos e condições dignas no exercício da profissão.

Aqui, na terra de Fernando Amaro, houve o carteiraço. Um aulão ao ar livre, em frente à sede da Unespar, câmpus Paranaguá, promovido por alunos e professores com o intuito de chamar a atenção para a situação atual do ensino público e da sede da universidade.

Em toda campanha política, seja na esfera federal, na estadual e na municipal, a cena se repete. A educação é sempre citada como prioridade, mas o depois é que são elas.

No quadro atual, a educação no país se põe a chorar.

Derruba lágrimas pelas goteiras expostas nos telhados das escolas, pelas frestas, pelas portas sem fechaduras, pelas carteiras quebradas e riscadas, pelos banheiros sem reparos, pelos bebedouros sem água, pelas quadras sem pinturas, pelas janelas com vidros quebrados, pelas péssimas e vergonhosas condições estruturais de muitas instituições de ensino.

Agoniza pelo descaso, pelo desdém, pela indiferença, pelo abandono, pela negligência, pela falta de um olhar atento de nossos governantes.

A educação lamenta não começar o ano letivo, por não ver seus professores sendo valorizados, por não encontrar melhores condições de trabalho aqueles que se dedicam à tarefa de preparar cidadãos para o futuro.

A classe-mãe forma médicos, psicólogos, advogados, arquitetos, dentistas e, aleluia, ainda consegue formar outros professores, que encaram salas de aula superlotadas e põem em prática o dom que receberam, executando a mais linda das profissões.

A educação segue em prantos por ver tanto desvio de dinheiro, tanta corrupção, tanta indecência enquanto os professores se ajeitam como podem e vão driblando a ineficiência de um país que não os enxerga e não lhes dá a importância devida e merecida.

Sem a educação não somos nada. Sem escola não somos nada. Sem professores não somos nada. Essa tríade elimina a ignorância. Fornece informação para uma vida. Gera formadores de opinião, gente que vem somar, acrescentar e fazer a diferença.

A educação movimenta a sociedade como um todo, é fonte vital para o bom andamento e desenvolvimento de um país. Deixá-la chorar só mostra o despreparo e o descaso que segue tomando conta da nação.

A classe-mãe enfrenta a luta, unida, de mãos dadas. Aguarda esperançosa por soluções para os inúmeros problemas que se arrastam há anos. Espera que as promessas de campanha se materializem e, quem sabe, possam algum dia estender lenços para que a educação enxugue as lágrimas.

Crônica do Dia, com Kátia Muniz

kátia-muniz2Fantasiados

Por: Kátia Muniz                                                                               katiacronicas@gmail.com

Fevereiro chegou e o carnaval está batendo à porta. Se você é daqueles que gosta da folia de Momo, já deve estar com a fantasia pronta ou com o abadá comprado. Serão, no mínimo, cinco dias em que você vai poder se soltar e brincar à vontade.

Nos blocos, espalhados por esse Brasil afora, veremos pessoas fazendo graça e ironizando situações do cotidiano que nos provocam alguma repulsa. Querem se fazer ouvir através de faixas, placas, cartazes e, não raro, escondidos atrás de uma máscara, sempre com o bom humor típico de um país tropical. A ordem é se divertir, e os problemas do mundo ficarão para depois da quarta-feira de cinzas.

Somente na quarta abandonaremos as fantasias e retornaremos à realidade.

Pouco importa a roupa escolhida, continuaremos fantasiados. Desta vez, independentemente de gostarmos ou não de carnaval, sem perceber, passaremos o ano fantasiados de um personagem circense com cabeleira colorida, calças largas, rosto pintado e nariz vermelho.

O Brasil é um país que prolonga sua folia, mesmo depois do carnaval ter dado o seu adeus. Por aqui, sacrificamos momentos de lazer com a nossa família para podermos trabalhar mais. E trabalhamos mais, porque precisamos pagar impostos altíssimos e assim sustentarmos a máquina pública.

Se quisermos uma “melhor” educação para nossos filhos, pagaremos uma escola particular. Se precisarmos de dignidade na hora de um atendimento na área de saúde, ficaremos reféns dos planos particulares. Tudo isso porque os impostos nunca são suficientes para atender, com o respeito que merece a população que sofre em corredores de hospitais públicos e dar condições decentes para as crianças que estudam com o teto de escolas desabando sobre suas cabeças, ou, usando guarda-chuva, para escapar das goteiras, dentro da sala de aula.

Assistem ricos e pobres, porque aqui também sempre foi o país da desigualdade social, a violência seguir sem controle e, na maioria dos casos, sem impunidade, a inflação rumar às alturas, a gasolina ganhar status de luxo e as denúncias de corrupção assolar o país, enquanto lidamos com apagões e falta de água.

Esperaremos por mais longínquos quatro anos, quando ainda fantasiados e com o poder nas pontas dos dedos, nos encontraremos com a tecla verde escrito “confirma”. Nesse momento decidiremos se a folia continuará, ou se haverá um sinal de esperança, que nos faça retirar a fantasia.

Crônica da Kátia: A urgência do tempo

kátia-muniz2Por: Katia Muniz                                                                              katiacronicas@gmail.com

Juro. Eu não senti o tempo passar.

Era ontem quando desejei a muitas pessoas os votos de um feliz ano novo. E ele já vem findando.

O tempo seguia os passos de uma tartaruga quando eu tinha 10 anos. Quantos séculos se passaram até eu alcançar a maior idade?

Aos 18, ficava imaginando o rosto que eu teria aos 30 e aos 40. E passou tudo tão rápido que eu não lembro mais. Recorro às fotos para enxergar o passado.

Qual o motivo de tanta pressa? Eu nem bem entrei nos 45 do meu segundo tempo! Ainda almejo prorrogação. Vá com calma, siga devagar.

Eu não tinha todos esses cabelos brancos que de repente apareceram.

E eu sorria sem que meus olhos denunciassem algumas marcas de expressão.

Onde larguei meus óculos?

Juro. Eu não senti o tempo passar.

E, por não sentir, sobra aquela sensação de não ter vivido como se deveria. Sobra aquela sensação de água escorrendo entre os dedos. Sobra aquela sensação de querer apertar a tecla rewind.

As luzinhas estão colocadas, cintilando nas ornamentadas árvores de natal. Elas enfeitam e decoram ambientes, enquanto um monte de gente lota lojas pendura sacolas nos braços e desfalca os bolsos.

É o sinal do mês de dezembro. O mais urgente de todos os meses.

A folhinha no calendário permanece solitária. Perdeu as amigas que o tempo tratou de carregar.

E lá se vão mais 365 dias sem que eu tenha sentido passar.

Crônica do Dia

kátia-muniz2Outubro Rosa

 Por: Katia Muniz                                                                   katiacronicas@gmail.com

Em uma de suas entrevistas, Jô Soares comentou: “Eu não choro de tristeza, choro de emoção”. Toque aqui, Jô, somos dois. Na tristeza, me recolho, silencio. As emoções que vivo me fazem derrubar as lágrimas.

Fui visitar a Exposição Ártemis, aberta no início de outubro, na Casa Cecy. Com muita sensibilidade, a mostra retrata mulheres que passam ou passaram pelo tratamento contra o câncer de mama. André Alexandre assina as fotos e Paulo Ras, os poemas.

Com tranquilidade, repousei meus olhos, atentamente, em cada tela e não demorou muito para que eu os sentisse marejados.

Cada foto conversa com quem a observa. Nada de assuntos triviais: as imagens vão mais longe, nos sacodem por dentro e provocam um alerta.

Ninguém sai da exposição do mesmo jeito que entrou.

Explicitamente há um convite para olharmos com mais cuidado para nós mesmas, para nos darmos a devida atenção, para aprendermos a não superestimar problemas corriqueiros do dia a dia, para marcarmos uma consulta médica, para fazermos uma mamografia. Um exame indolor, pelo menos para mim, que pode detectar inicialmente algum sinal de anomalia.

Parei diante da foto da mãe que amamenta o filho. Um seio foi retirado. O outro está lá, fornecendo alimento, nutrindo uma nova vida. Ali fiquei, ali permaneci, ali me perdi no tempo. Também sou mãe, também sou da espécie. Uma mãe sempre entende outra mãe.

As modelos retratadas fazem parte do Instituto Peito Aberto, criado para dar apoio a pacientes com câncer de mama. Nos clicks, há mulheres contemplativas, mulheres sorrindo, mulheres que venceram a doença, mulheres que estão no meio da batalha. Cada uma com a sua história, com a sua bagagem, com a sua experiência, com a sua marca, com a sua mutilação, com a sua cicatriz, com seu corpo, com a sua força. Todas clamando pela vida.

São várias mulheres que, em algum momento, tiveram seus caminhos cruzados pelo mesmo diagnóstico. A dor as uniu, as fez darem as mãos, fez brotar uma união e ver nascer amor onde elas nem esperavam.

Observá-las nas fotos nos faz intuir vagamente o sofrimento pelo qual passam ou passaram. Porque a dimensão real de algo só é obtida pela vivência. Nunca sabemos de nada até que a vida nos coloque cara a cara com o enfrentamento. Olhando de fora, somos todos leigos.

A exposição segue aberta. Fotos, poemas, mulheres, guerreiras. A vida e sua mescla de alegrias e lágrimas. A vida e suas emoções!

Crônica da Katia Muniz- Mulheres

Mulheres

537177_250360158430555_1992762965_nPor: Katia Muniz                                                                   cronicaskatia@live.com

 

Achamos que seria mais fácil. Que conciliaríamos, sem tanto sacrifício, a nossa vida profissional com as demais tarefas. Erramos feio.

É verdade que nos esforçamos com louvor para dar conta dos inúmeros papéis, que cada vez mais, assumimos, mas o resultado de tanto empenho, para muitas, ainda é frustrante.

É uma ilusão acreditar que seríamos mães dedicadíssimas, esposas cuidadosas, profissional exemplar, mulher segura e bem resolvida. Não somos nenhuma mulher-maravilha, apesar de muitas vezes querermos aparentar que somos.

Um olhar mais atento perceberá em nós mulheres sufocadas, sobrecarregadas, angustiadas, carentes, com o coração em solavancos, tentando vencer as duas, três e até quatro jornadas diárias.

E a sociedade ainda exige de nós esteticamente um corpo magro, uma pele sem rugas, celulite zero, condicionamento físico, maquiagem bem feita, cabelo impecável, manicure, pedicure e depilação em dia. E há quem queira dar conta dessa demanda.

Pagamos um preço alto.

Vivemos em alerta, em prontidão, ativas, agitadas, correndo de um lado para outro, distribuindo meias porções de nós por onde passamos.

Sofremos internamente, mas vamos tentando resolver nossos questionamentos na fila do açougue, enquanto pagamos as contas, levamos as crianças para escola ou elaboramos o cardápio do almoço.

Terceirizamos a educação dos nossos filhos. Não vimos quando eles começaram a engatinhar, a andar e quando bateram palminha. E carregamos um caminhão de culpa por isso.

A nossa casa entregamos para a secretária do lar. É ela quem dá um jeito para que as coisas funcionem em harmonia. Mas as secretárias do lar também são mulheres e volta e meia faltam ao trabalho para levar dois dos quatro filhos que tem ao médico. E nossa vida vira um caos.

Há mulheres mais calmas. Ainda bem! Elas conseguem levar a vida de maneira mais leve, mesmo com tantas obrigações. E há também um batalhão de estressadas e ansiosas, sérias candidatas a sócias do Rivotril.

E entre ganhos e perdas, entre a luta constante do ser e do ter, vamos nos equilibrando na vida, no salto alto, com um batom nos lábios e esmalte nas unhas, meio enlouquecidas, é fato, mas sem jamais perder a pose.