Por: Katia Muniz
Uma das minhas primeiras providências nas férias foi assistir ao tão comentado Boyhood.
Quem me acompanha sabe que, volta e meia, eu escrevo sobre os filmes que vejo. Reconheço que recomendar é sempre um risco. Vai que você não goste do filme, ou não tenha paciência de grudar na poltrona durante quase 3 horas consecutivas. Ainda assim, indico e faço um pedido: mães de menino, não deixem de ver!
Se você gosta de adrenalina, de gente saltando de prédios, de luta, de correria, definitivamente não é essa a pegada do filme.
Boyhood fala da vida cotidiana e de um punhado de emoções que fazem parte do pacote.
Da sacada genial do diretor em filmar durante 12 anos os mesmos personagens, temos o privilégio de ver a trajetória do garotinho Mason, desde a infância até a juventude.
É um primor acompanhar as brincadeiras infantis, a hora que as mesmas brincadeiras são substituídas pela parafernália eletrônica, a confusão interna e os medos próprios da adolescência, a chegada das famigeradas espinhas no rosto, o físico modificando, a voz engrossando, o primeiro amor batendo à porta.
É tocante ver a luta diária de uma mãe, separada, que busca entre erros e acertos a melhor maneira de criar e educar dois filhos.
É emocionante ver o “tempo de qualidade” que o pai de final de semana dispõe aos seus filhos, como também os diálogos abertos, diretos e descontraídos sobre assuntos naturalmente complexos de abordar entre pai e filha/pai e filho.
O filme nos atrai pela simplicidade, por retratar a vida como ela é, por fazer com que nos identifiquemos com as cenas, por dispensar recursos tecnológicos para mostrar a passagem do tempo, por escancarar os altos e baixos da minha, da sua, da nossa vida, por nos fazer sentir um pouco atores durante algumas horas.
Tem mais: é um convite claro para refletir sobre o ver e o sentir. Nossas retinas já andam cansadas de tanto apelo visual, enquanto ainda nos falta aguçar o sentir. Este último exige de nós certa dose de sensibilidade e entrega, ambas geralmente sufocadas na correria do dia a dia e no meio de tantos afazeres. Resultado: a gente vê, mas não sente.
Boyhood é glorioso falando do trivial. É uma crônica filmada. É um acerto. É um apanhado de sutilezas. É um jeito de dizer que a nossa vida também dá um belo filme.