O prefeito de Guaratuba, Roberto Justus, divulgou um áudio onde desabafa sua insatisfação com a votação do deputado Roberto Justus e pai do prefeito. E no desabafo anunciou a demissão de cargos comissionados.
Horas depois, e diante da repercussão, o prefeito divulgou um texto onde volta atrás da decisão de demissões e faz um mea culpa sobre o assunto.
Confira o áudio do prefeito e, em seguida, o texto. Em tempo, Nelson Justus foi reeleito com 38.873. Em Guaratuba ele teve 3.266 votos do total de 17.732 votos válidos.
Confira o áudio do prefeito de Guaratuba, Roberto Justus.
Horas depois, o prefeito mostra que é tão humano quanto qualquer outra pessoa que pode tomar uma atitude intempestiva, mas que sabe reconhecer na hora que extrapola, num texto divulgado nas mídias sociais.
Leia na íntegra o desabafo do prefeito, após o áudio.
“Hoje fui confrontado com minha própria condição humana, senti a dor de um filho que vê seu pai ser injustiçado e desabafei…
E ao desabafar feri pessoas que não gostaria que fossem feridas, por isso venho aqui me retratar e me desculpar.
É que só estando dentro da vida pública para entender o quanto é difícil administrar bem uma cidade, o quanto é longo o caminho a ser percorrido para que obras aconteçam, e para tal, é imprescindível a presença de um Deputado Estadual atuante, a apoiar nas buscas por verbas e convênios com o Governo Estadual, a mandar projetos de lei que atendam a nossa necessidade enquanto Município.
O meu pai, o Deputado Nelson Justus, tem sido incansável por Guaratuba e cada um de nós é testemunha disso, ainda que muitos tentem negar.
No meu olhar de filho, ao ver os resultados das urnas deste ano, entendi que ele deveria ter conseguido muito mais votos de nossa cidade. Mas sua votação aqui foi de 3.266 votos. Essa ausência de reconhecimento nas urnas me feriu.
E também me fez pensar que estaria sugerindo uma reprovação à minha atuação na prefeitura.
Por isso gravei um áudio para os meus secretários falando em mudança de rumos e demissões em massa, o que não vai ocorrer.
Quanto ao meu desabafo, eu disse que os que não votaram no meu pai foram ingratos e alguém me respondeu que ninguém tem que ser grato a quem cumpre sua obrigação.
Pensando nessas palavras lembrei de uma palestra do Professor português António Nóvoa, proferido no III Encontro PIBID UNESPAR, em 2014, a qual assisti apenas por vídeo, mas que me tocou profundamente, a qual dizia que: São Tomás de Aquino, em seu Tratado sobre a Gratidão, ensina que a gratidão se faz em três níveis.
O primeiro nível é o nível da percepção; quando alguém se dá conta de que algo lhe foi feito, sem se comover com isso; assim, de modo superficial.
O segundo é o nível do agradecimento que consiste em não só perceber, mas reconhecer, louvar e dar graças.
O terceiro é o nível mais profundo, o nível da retribuição, do vínculo; neste nível, quem agradece se sente vinculado àquele que fez, se sente comprometido a retribuir o outro.
E o Professor António explicou que em cada idioma é possível verificar o agradecimento em um dos três níveis:
No inglês e no alemão se agradece no nível mais superficial. Quando se diz “thank you” ou “zu danken” o que se faz é expressar o reconhecimento pelo favor concedido, de modo apenas intelectual, cerebral, sem qualquer emoção.
Na maior parte das outras línguas, prossegue ele, se agradece no nível intermediário. Por exemplo, ao se falar “merci” em francês, “gracias” em espanhol ou “grazie” em italiano, quem agradece está reconhecendo que recebeu uma graça, algo que toca o seu coração, algo que o comove, é uma gratidão no nível emocional.
E prossegue: já a formulação na língua portuguesa: “obrigado” é a única que expressa o nível mais profundo de gratidão. Quando agradecemos em nossa língua, queremos dizer fico obrigado perante você, tenho uma obrigação com você, fico vinculado a você, fico comprometido a retribuir-te com a mesma generosidade, a mesma presteza, a mesma dedicação.
É claro que numa democracia cada um tem o direito de depositar seu voto, sua confiança, sua representação em quem quiser; é certo também que nosso representante ao ser legitimado por nosso voto, deve trabalhar corretamente para fazer jus à procuração recebida.
Mas num cenário em que poucos cumprem bem o seu papel, agradecer de verdade, vincular-se, manter a representatividade é o mínimo que podemos fazer por quem está nos representando da melhor maneira possível.
E nesse ponto, fazer oposição cega, votando em outro candidato, sem a mínima condição de se eleger, apenas para tirar voto daquele que tem feito muito, é dar proveito a alguém em particular, em detrimento do coletivo, é tentar tirar de cada um dos munícipes a oportunidade de viverem em uma cidade melhor, onde o povo tenha suas necessidades plenamente atendidas. É isso que me angustia.
De toda forma, mais uma vez peço desculpas a quem feri. Reitero que sou Prefeito de todos os guaratubanos, eleito pela maioria dos votos e estou aqui para continuar a cuidar de nossa cidade e de nossa gente. Quero me despedir daqueles com quem converso diariamente pelas redes sociais, coloco-me a disposição para ouvi-los sempre que necessitarem; estarei me reunindo com vocês nos bairros e pronto para recebê-los, à medida do possível, em meu gabinete, ainda que tenhamos ideias opostas, porque sinceramente tenho esperança que é possível, um dia, chegarmos a esse ponto de maturidade política.
Roberto Justus”