Crônica do Dia: A Fortaleza

kátia-muniz2Por: Katia Muniz

Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, Ilha do Mel, Paraná, início de fevereiro de 2016.

Foto: Sereia das Encantadas

Foto: Sereia das Encantadas

Entrei na parte onde era a antiga prisão e dei de cara com a exposição “Lagamar”, de Orlando Azevedo. São fotos que retratam o estuário do Lagamar, complexo biológico que abrange Guaraqueçaba, no Paraná, até Iguape e Jureia, em São Paulo.

Todas as entradas que levam à prisão estavam abertas, mas a exposição te prende, te arrasta para dentro, te suga. Gastei o tempo, que nas férias costuma sobrar, observando atentamente cada imagem, cada detalhe, e me deixei levar pela delicadeza, sensibilidade e beleza retratadas.

De repente, ouço uma música. É ela que me tira da exposição e me leva até a casa principal. Lá encontro um senhor tocando flauta. Em outros dois pontos distintos, dois homens fazem um desenho do local.

Adentrei o recinto e SUR-PRE-SA! Meus olhos enxergaram uma biblioteca com um acervo bem diversificado: obras de Pablo Neruda, Millôr Fernandes, Drummond, Fernando Pessoa e vários títulos destinados ao público infantil, que estão à disposição dos moradores da ilha e dos visitantes, desde que se façam valer três verbos: emprestar, ler e devolver.

Nas paredes, mais quadros. São fotos, em preto e branco, que retratam a vida dos pescadores da Ilha do Mel. A autoria é de Leonardo Regnier.

O altar datado do século XVIII, que pertencia à Capela do Forte, agora, preenche o espaço de uma outra sala.

Quem visita a casa principal é recebido pelo Fábio Machado. Com jeito tranquilo e voz pausada, consegue desacelerar os turistas mais afoitos. Orienta, explica, conversa, explana sobre os momentos históricos vividos no local, oferece um folheto contendo o mapa da ilha e tem o cuidado de não deixar ninguém sumir do seu raio de visão sem assinar a folha de registro de visitantes. Faz, com louvor, a lição primordial de quem lida com o público: receber e atender bem.

Eu estava lá, fingindo ler um livro, quando, na realidade, estava mesmo era montando essa crônica, na cabeça, e pude presenciar o Fábio em ação, primeiro atendendo um grupo vindo de Porto Alegre e, logo na sequência, alemães e argentinos.

Entrega a cada um o seu melhor e faz tudo com muito amor e dedicação.

Se eu já arrastava um bonde por esse pedaço da ilha, agora me rendi de vez. Saí extasiada em ver que as paredes e o local, tão ricos em história, ganharam também o colorido das artes e da cultura. Foi um mergulho que jamais vou esquecer.