Crônica do Dia por Kátia Muniz

537177_250360158430555_1992762965_nVidas ceifadas
Por: Kátia Muniz

Dias atrás, a revista Veja, edição 2320, trouxe como título de capa “Os órfãos da impunidade”.

Há dias eu andava querendo escrever sobre esse tema e ainda não tinha encontrado o jeito. A leitura da matéria me ajudou.

O texto aponta que: Na Argentina, Chile, Dinamarca, França, Reino Unido não há auxílio financeiro para a família do preso. Nos Estados Unidos, somente alguns estados como Washington e Virgínia ajudam as famílias mais carentes. No Brasil, as famílias de baixa renda, que dependem exclusivamente do preso que contribuía para a Previdência Social, recebem um auxílio de R$ 730,00 reais em média.

Trocando em miúdos: a família de alguém que cometeu um crime recebe mais que muita gente que passa o mês na labuta, para ganhar o salário mínimo de R$ 678,00.

Tem alguma coisa errada ou é só impressão minha?

Você acorda cedo, pega ônibus, metrô, enfrenta engarrafamentos, trabalha o dia todo, sacrifica momentos preciosos de lazer com sua família, paga impostos em tudo que adquirir ou consumir e, se tiver a infelicidade de ser vítima da criminalidade que assola este país, sua família vai ter que se virar de alguma forma para recompor a sua renda. No Brasil, os dependentes de quem contribuía para a Previdência podem receber o auxílio previdenciário da pensão por morte, mas não há um benefício exclusivo para quem perdeu parentes vítimas de crime.

Há varias citações, na matéria, sobre mulheres que ficaram viúvas precocemente, crianças que carregam traumas por terem presenciado a morte do pai ou da mãe, outras convivem com sequelas físicas causadas pela violência, filhos que tiveram a convivência paterna ou materna interrompida bruscamente, e em outros casos a perda dos dois de uma só vez, tudo isso porque algum criminoso resolveu tirar-lhes a vida.

As famílias que perderam algum ente querido, continuam produzindo, trabalhando e de alguma forma ajudando a beneficiar justamente os parentes daqueles que sem nenhuma piedade destruíram para sempre estes lares, materialmente e psicologicamente. Em minha opinião, além de vítimas da impunidade, essas famílias tornaram-se vítimas também da incoerência.