Por: Kátia Muniz cronicaskatia@live.com
Dizem por aí que não é bom revirar o passado. Que o que passou, passou. Que
devemos nos concentrar no presente e olhar para frente.
Depende. O passado nada mais é do que uma história construída de acordo com
nossas atitudes, decisões e escolhas.
Passado é escola, são lições com erros pontuados de caneta vermelha e acertos
seguidos de parabéns.
Passado inclui altos e baixos, riso e choro, alegria e tristeza, amores e dissabores.
O passado registra nossa infância, brincadeiras, o medo do escuro, perguntas
curiosas para deixar nossos pais de cabelo em pé, primeiros amigos, um mundo
gigantesco para ser descoberto, desbravado, explorado. Tudo é grande aos olhos dos
pequenos.
Em nosso passado, desfilaram amores, cartas, bilhetes, cartões, rosas, perfumes,
bombons, letras de músicas, primeiro beijo, declarações em alto e bom tom. Amores
que foram bons ou ruins enquanto duraram, mas que de alguma forma nos marcaram e
nos ensinaram algo.
Passado tem o gosto de conquistar o primeiro emprego, o primeiro salário. Tem
o gosto da responsabilidade, da liberdade, do começar a direcionar a vida do jeito que a
gente quer.
Passado envolve lembranças, segredos inconfessáveis, e um “eu” que fomos
moldando aos poucos.
O passado está nos porta-retratos, em álbuns, em diários e, para os mais
moderninhos, em pastas e mais pastas dentro de um computador.
Há passado guardado em caixas de papelão dentro de algum armário. Há o
primeiro sapatinho, as roupas do batizado. Há um brinquedo que resistiu ao tempo: uma
boneca sem o cabelo, um carrinho sem algumas rodas, devidamente salvos por algum
coração de mãe.
Não sei quantos anos você tem agora, no exato momento em que lê este texto.
Não faço a menor ideia do tamanho do seu passado. Passado pode ser coisa muito
antiga, acúmulo de décadas, mas pode ser o minuto que acabou de passar. Independente
do tempo transcorrido, passado é necessário.
Somos hoje o resultado do que fomos lá atrás. Porque passado e presente têm
essa mania de se misturar, de se fundir e de se integrar.
Passado está sempre batendo à nossa porta. Revisitando. Difícil não deixá-lo
entrar.
“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”, já dizia Mário
Quintana.