Crônica do Dia: Caçar

RMIs0gkPor: Kátia Muniz

Meu amigo, minha amiga, a ordem agora é caçar.

Você precisa caçar alguma coisa para não se sentir tão fora da turma e não correr o risco de ser comparado a um alienígena.

Cace rã, cace emprego, cace um namorado ou uma namorada, cace um livro, cace um filme e cace, se você gosta, os bichinhos do tal jogo que, atualmente, virou febre. Não vá me dizer que você não sabe do que eu estou falando!

Eu também caço. Sossegue. Não se apresse com as conclusões e deixe-me completar a frase: Eu caço assuntos e palavras.

Geralmente, as pessoas tendem a achar que as crônicas saem, assim, num sopro. Não fazem ideia do quanto eu tenho que caçar. Tarefa árdua, não se iluda.

Estou o tempo todo caçando, radar ligado até que, de repente, soa o alarme dentro de mim. Pronto. Chegou o assunto, agora pode pular para a fase dois: caçar as palavras para desenvolvê-lo.

Que útil seria um aplicativo baixado no meu celular, similar a do joguinho, me avisando os pontos, na cidade, em que eu tenho que ir para me abastecer da munição necessária para o desenrolar da escrita. Em vez de “PókeStops” um “PókeWords”!

“Vire-se com o cotidiano, Kátia. E faça bom proveito”, diz a voz da minha consciência.

E foi o cotidiano e o filho pré-adolescente que me apresentaram a nova mania. Eu não me rendi, mas também não faço auê e minimizo reclamações.

Sou grata aos tais bichinhos do jogo por me fornecerem o assunto que preencheu a coluna do jornal.

Mas convenhamos, de nada adianta escrever sem ser lida. E agora vem a parte boa do meu combate: Se você leu o texto, eu capturei você. “Game over”.

Pokemon Go causa polêmica e dúvidas

Aplicativo armazena informações “exatas e detalhadas” sobre cada movimento do usuário e pode condicionar o comportamento do consumidor, afirma comissária alemã para privacidade.

0,,19398227_303,00A comissária para a privacidade no estado alemão de Schleswig-Holstein, Marit Hansen, lançou um alerta sobre o Pokémon Go. Em entrevista ao jornal alemão Handelsblattpublicada nesta sexta-feira (05/08), Hansen afirmou que o jogo armazena dados “exatos e detalhados” de cada movimento dos usuários pelas ruas.

“É uma máquina gigante de coleta de dados”, disse, acrescentando que o aplicativo de realidade aumentada, além de espionar, também pode condicionar o comportamento do consumidor.

A Niantic, empresa baseada na Califórnia e que ajudou a desenvolver o jogo, não buscou apenas acesso a câmeras e microfones, mas também disponibilizou uma ferramenta de marketing para “deliberadamente orientar” os usuários do jogo aos chamados “Pokestops” em estabelecimentos comerciais, afirmou Hansen.

A especialista em política de privacidade apontou também para a falta de controles legais, repetindo diversas advertências recentes sobre o aplicativo feitas em Nova York, na Austrália e nos Emirados Árabes Unidos.

“Como o jogo utiliza um provedor de fora da Europa, não temos o apoio jurídico para agir”, disse Hansen, referindo-se às disputas entre União Europeia (UE) e os EUA sobre a transferência de dados transatlânticos e a cooperação da Niantic com o Google Maps.

No mês passado, a Federação das Associações Alemãs de Consumidores (VZBV, na sigla em alemão) disse que contestou 15 cláusulas dos termos de uso e privacidade da Niantic, dando à empresa americana até 9 de agosto para responder. Caso a Niantic não se pronuncie, a VZBV advertiu levar o caso a um tribunal.

“Era do controle total”

O editor-adjunto do Handelsblatt, Thomas Tuma, disse em seu editorial desta sexta-feira: “Pokémon Go é o ponto de partida para uma nova era de controle total.” Em apenas três semanas, 75 milhões de pessoas baixaram o aplicativo – “todas sem terem sido forçadas ou mostrado resistência”, disse Tuma.

“Fisgados, porque é inicialmente gratuito, temos de pagar mais do que nunca com os nossos dados”, incluindo nossas listas de amigos, acrescentou Tuma.

O jogo, lançado no Brasil na noite desta quarta-feira, envolve diversos problemas graves, alerta o editor, porque todos os “monstrinhos são os cavalos de Troia com os quais a indústria da internet abre o caminho para nossas cabeças e nossas carteiras”. “Nós, os usuários, estamos sendo explorados”, disse. “Os que estão sendo capturados somos nós mesmos.”

Campo fértil para criminosos

Na segunda-feira, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, ordenou que o departamento correcional proibisse que os cerca de três mil criminosos sexuais do estado usassem oPokémon Go.

Uma das ferramentas do jogo, que permite aos usuários colocar iscas para atrair jogadores a locais específicos, possui o potencial de ser usada por “predadores” em busca de crianças, afirmou Cuomo. Em seu site, a Niantic diz que os usuário não podem ter menos de 13 anos de idade para jogar seus jogos.

Nos EUA, a mania Pokémon Go levou pessoas a andar em quintais, calçadas, cemitérios e até mesmo em estacionamentos policiais – sempre em busca dos monstros do famosos desenho animado Pokémon.

Nos Emirados Árabes Unidos, há duas semanas, a autoridade de telecomunicações TRA alertou os usuários para não ativarem as câmeras de seus celulares em casa ou em outras áreas privadas. E na Austrália, a polícia comunicou que um casal foi ameaçado com uma arma num parque ao sul de Sydney.