Crônica do Dia: A beleza dos gestos

kátia-muniz2Por: Kátia Muniz

Já faz tempo. Havia me hospedado em um hotel, no centro de Curitiba. Estava retornando de um passeio, quando um homem alto, com um rosto que me pareceu familiar, segurou a porta de entrada do hotel para que eu pudesse passar. Justo eu que não sou de economizar sorrisos, entreguei a ele um bem farto, daqueles que só a boca não dá conta e, por isso, acaba usando o rosto inteiro. Agradeci o gesto, e ele respondeu com voz grave: “De nada”. Peguei o elevador com a dúvida martelando na minha cabeça: “Eu conheço esse cara de algum lugar!”. Depois de quase promover um curto-circuito interno nos meus neurônios, fui acometida com a real identidade do tal homem: Arnaldo Antunes. Ex-titãs e, agora, alçado à minha lista de homens gentis que cruzaram o meu caminho. Continue lendo

Crônica do Dia: A beleza dos gestos

ternura do amorPor: Kátia Muniz

Já faz tempo. Havia me hospedado em um hotel, no centro de Curitiba. Estava retornando de um passeio, quando um homem alto, com um rosto que me pareceu familiar, segurou a porta de entrada do hotel para que eu pudesse passar. Justo eu que não sou de economizar sorrisos, entreguei a ele um bem farto, daqueles que só a boca não dá conta e, por isso, acaba usando o rosto inteiro. Agradeci o gesto, e ele respondeu com voz grave: “De nada”. Peguei o elevador com a dúvida martelando na minha cabeça: “Eu conheço esse cara de algum lugar!”. Depois de quase promover um curto-circuito interno nos meus neurônios, fui acometida com a real identidade do tal homem: Arnaldo Antunes. Ex-titãs e, agora, alçado à minha lista de homens gentis que cruzaram o meu caminho.

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Crônica do Dia: Inteira

Por: Kátia Muniz

Woman-Eating-Solo.jpg.653x0_q80_crop-smartUma parte dela paga as contas, resolve as encrencas cotidianas, organiza a casa, dá comida para os cachorros, trabalha.

Ela cumprimenta as pessoas, respeita filas, não costuma violar a lei, é educada e simpática.

Vai às compras, pesquisa preço, abastece o carro.

Gosta de teatro, de cinema, de se encontrar com as amigas, porém, ultimamente, anda muito caseira. Continue lendo

Crônica do Dia: Presente para o papai

1-Duvidas

Por: Kátia Muniz

Andar de salto quinze, passar delineador sem borrar, conseguir equilibrar a bolsa pesada com sacolas de supermercado entulhadas de mantimentos e, pasmem, ainda sobra espaço para carregar a mochila do Joãozinho que não para quieto um segundo e segue lindo, serelepe e saltitante. Toda mulher possui braços que se transformam em tentáculos.  Tudo isso é fichinha para nós.

O que nos causa tremor e ranger de dentes é quando se aproxima o Dia dos Pais. O que comprar? É esse questionamento que gera dor de cabeça. E ela vai se intensificando à medida que a data se aproxima.

Quão prático seria se homem usasse um blush, uma tiara de cabelo, meia-calça com fio 20, 40, 60, cor da pele, marrom, preto, cinza, vermelho. Sapatilhas com lacinho, sem lacinho, bordadas com lantejoulas. Bijuterias variadas. Quem sabe os mais prendados gostassem de ganhar tapetinhos para banheiro, paninhos de prato, almofadas, liquidificador, jogo de panelas.

Mas não. Restam poucas opções, principalmente para o seu pai que não é um leitor. Adeus a algum título da livraria. Ele não bebe. Adeus a abridores, saca-rolhas, conjunto de copos.

Então, lá está você diante de uma pilha de camisas polo. Outra vez?

Lá está você com três pares de meias: preta, marrom e cinza. De novo?

Lá está você em dúvida se leva a camiseta tamanho M ou G. Coitada de você!

Lá está você segurando uma bermuda de tactel e tendo a certeza que errará o número.

Lá está você comprando um pijama. Logo para ele que dorme só de cueca.

Bingo! Cuecas!

Pronto. Resolvido.

No Dia dos Pais, você entrega o presente feito com todo capricho, acompanhado de um sorriso que vai de orelha a orelha. O sorriso é recolhido de um golpe, no momento em que vê seu pai estraçalhando o papel de presente. Uma criança de cinco anos leva mais jeito para abrir um embrulho. Ele confere o produto, lhe agradece com um beijinho e estica o presente para a esposa guardar. Homens são de uma objetividade e de uma praticidade invejáveis.

Não fique triste, querida, o ano que vem o martírio tem repeteco.

Crônica do Dia: O tempo e o amor

kátia 1Por: Kátia Muniz

Diante dela, ele começou a falar:

Antes de tudo, eu quero te agradecer por ter aceitado o convite para o café.

Você não mudou nada, sabia? Ainda traz o jeito meigo, o mesmo olhar e as covinhas no canto da boca quando sorri. Exatamente do mesmo modo quando me apaixonei por você na nossa adolescência. Continue lendo

Crônica do Dia: Paixões em tempos virtuais

kátia 1Por: Kátia Muniz

Primeiro, chegou uma solicitação de amizade pelo Facebook.

Tudo certo. Tudo ok. Ele curte todas as postagens dela. Ela curte todas as postagens dele. Gastam preciosos minutos vasculhando as fotos e a timeline um do outro. Ela o acha interessante. Ele a acha uma mulher deslumbrante. Até que chega a hora de alguém tomar uma iniciativa. Ele se enche de coragem e a chama em mensagem privada.

Nunca se viram antes, mas a conversa flui de uma maneira tão agradável que não restam dúvidas: foram feitos um para outro.

O próximo passo é conseguir o contato do WhatsApp.  Numa velocidade supersônica, os números de cada um já estão na lista de contatos.

Ela espera ansiosa pelas mensagens dele, enquanto a recíproca também é verdadeira.

Descobrem-se com meia dúzia de afinidades, riem de bobagem, teclam desesperadamente e já pensam um no outro o tempo todo.

Diagnóstico: paixão virtual.

Os dias passam, as mensagens se intensificam até que, já não aguentando mais a ausência física, resolvem marcar um encontro.

No dia e hora combinados, eles finalmente estão frente a frente.

Instala-se um nervosismo para ambos. Atrapalham-se nos cumprimentos. Sentam-se de maneira displicente e o termo “à vontade” não recebeu convite para ocupar a mesa.

Ela o analisa com cautela: a voz poderia ser mais grave, o perfume dele não a agradou, e que raios é essa mania que ele tem de coçar o queixo a todo o momento.

Ele a analisa com malícia: os seios poderiam ser maiores, as coxas mais grossas e, nas fotos, ela não tinha todas essas manchas no rosto.

Minutos depois, conseguem travar um diálogo. O desconforto pairava no ar, e as várias pausas nas falas acarretavam um silêncio constrangedor. Estavam conscientes de que o encontro minou, de vez, toda a paixão que se instalou na proteção da tela do smartphone de cada um.

Despendem-se com um: depois te mando mensagem.

O celular dela não acusou nenhuma mensagem. O dele idem.

Crônica do Dia: O amor e o tanto faz

kátia 1Por: Kátia Muniz
O amor não é linear. A gente não ama da mesma forma todos os dias.
Amamos, mas há dias que a gente não quer ver o outro, quer conversar o mínimo possível, quer silêncio, quer um espaço, quer uma paz individual.
Há dias que as mensagens no WhatsApp se fazem desnecessárias, ligar nem pensar e assistir a um filme juntos não é uma boa ideia.
Há dias que o amor veste a roupa da raiva, da mágoa, do descontentamento, do desconforto, da desilusão, do me deixa em paz.
A gente ama, mas quer fazer uma viagem sozinho, quer fazer um programa com as amigas, quer jogar um futebol com a turma do trabalho, quer um respiro, uma quebra de rotina.
Amamos também quando temos vontade de sumir, de chutar o balde, de programar a vida de um jeito diferente.
Tudo isso confunde, deixa a gente pensando que o amor fez as malas. Mas, quando ajustamos o foco, entendemos que, muitas vezes, o amor é contraditório. Faz looping na montanha-russa dos sentimentos, mas depois o carrinho desacelera e estaciona no trilho.
Porque há dias em que o amor parece não ser amor, mas ainda é.
A bagunça toda é só por um momento, um período, uma data, uma fase. Passada a turbulência, as mãos são dadas e a vida segue.
Amor só não é amor quando se instala o tanto faz: tanto faz se um bom-dia foi dado, tanto faz se o outro está gripado, tanto faz se vai trabalhar ou se é o dia da folga, tanto faz se comeu ou se está de dieta.
Tanto faz se está em casa ou não, se vai sair ou está chegando, se está vestido ou se está nu.
O tanto faz são olhos acostumados. Olhos que já não mais enxergam o outro.
Tanto faz é você não mais pertencer, não estar mais inserido no contexto, é não fazer falta, é saber que o outro não sente a tua presença e já não mais percebe a tua existência.
Tanto faz é a morte do amor, mesmo com o outro ainda respirando.

Crônica do Dia: Abraço

abraçoPor: Kátia Muniz

“No abraço a gente entrega o quanto ama”. Fernanda Estellita.

Não é novidade, pelo menos para quem me acompanha, que costumo, muitas vezes, dar a largada para meus textos usando como base frases que me tocam.

A que abre esta crônica, caiu como uma luva para celebrar o Dia do Abraço, em 22 de maio. Continue lendo

Crônica do Dia: Ela se chama Maria

18341818_1039807852819111_8690260596138685633_nPor: Kátia Muniz
Diga, mãe, que você vai continuar a me dar colo, a me fornecer os abraços mais aconchegantes, a depositar beijos no meu rosto e a me emprestar os seus ouvidos.
O tempo está passando. Para que tanta velinha em cima desse bolo? Mais uma idade inaugurada, mais rugas instaladas sem permissão e algumas dores que insistem em dizer que você não tem mais vinte anos. Continue lendo

Crônica do Dia: Rita Lee

Livro-Rita-Lee-Imaginação-FértilPor: Kátia Muniz

Não consigo ouvir algumas músicas da Rita Lee sem fazer viagens ao passado. Tem canções que permanecem com a gente, moram dentro e basta ouvir os primeiros acordes para as lembranças saltarem do fundo do baú.

Quando me deparei, na livraria, com Rita Lee – uma autobiografia, sabia que a leitura seria um check-in para as recordações.

O livro tem 294 páginas. Devorei-as. Continue lendo