Crônica do Dia: Quando o amor chega

Almas que se encontramPor: Kátia Muniz

Ah, garota, você quer amar que eu sei! Você e a torcida de todos os times. Você procura a sua cara metade, procura a tampa para sua panela, procura a metade da laranja, procura alguém para chamar de seu.

Então, a partir daí, define que o primeiro passo é a produção. E lá se vão rios de dinheiro em cremes, em roupas, em perfumes e em maquiagens.

Você gasta horas na frente do espelho fazendo a chapinha, delineando os olhos, tirando e colocando roupas, até que dá o veredito final. Estou pronta!

Na balada, vê um cara lindo e decreta: é ele.

Praticamente, você quase se desmonta de tanto dançar. Rodopia o cabelão de um lado para outro, senta um pouco, cruza as pernas e o cara, nada.

Achando que o tal rapaz não enxerga direito, você resolve ir mais perto. Continua dançando e botando para fora a Beyoncé que há dentro de você. Em vão.

Volta para casa bocejando na companhia de uma dor de cabeça tremenda. Não foi dessa vez. Quem sabe num outro dia.

No próximo final de semana, sabe-se lá por quais motivos você não quer sair. Veste uma calça de moletom, uma camiseta com estampa do Mickey, prende o cabelo meio de qualquer jeito, não passa batom e decide, assim, toda à vontade, ir ao supermercado comprar umas coisinhas para comer em casa, enquanto vê um bom filme.

Tcha-ran! Olha lá o seu príncipe escolhendo uns tomates! E já te deu bola, percebeu?

Percebeu, sim. E, entre uma gôndola e outra, trocam números de telefones. Depois de alguns telefonemas se encontram. De tanto se encontrarem, namoram. Até que o happy-end aconteceu: casam-se.

Você não acredita? Acredite. Fui madrinha.

Crônica do Dia: Beijo na boca

kiss-hederPor: Kátia Muniz

Sabe qual é o termômetro de uma relação?

Errou se você pensou em sexo e naquela transa capaz de fazer você subir pelas paredes.

A medida está no beijo. O sexo é consequência.

Nenhuma transa será boa o suficiente se não vier acompanhada de beijos. Muitos beijos.

Vocês trocaram olhares. Surgiu aquela vontade de se conhecerem. Aproximaram-se, conversaram e, enfim, os lábios se encontraram.

Talvez a coisa toda não funcione nos primeiros segundos. Vamos considerar que são duas pessoas se explorando pela primeira vez. Mas se numa segunda ou terceira tentativa, as bocas não disseram a que vieram, esqueça. “Pegue o teu banquinho e saia de mansinho”.

Pode ser o beijo mais romântico ou o mais singelo do mundo. Mas é preciso que o corpo todo lhe entregue alguma resposta. E de preferência que o feedback indique que, na sequência, surgirão as labaredas. Chamem os bombeiros!

Beijo é intimidade pura. Precisa ter entrega, doação, língua, decisão, atitude, vontade, olhos fechados, esquecer o relógio, e não permitir, em hipótese alguma, que o pensamento voe para qualquer outro lugar. Beijo é concentração.

É lindo quando funciona! Quem não se lembra do goleiro Casillas, na Copa de 2010, quando interrompeu a entrevista da namorada, e tascou-lhe um beijo para o mundo todo ver! Naquele momento, todas as mulheres do planeta queriam ser a Sara Carbonero.

Não caia na cilada de que o tempo vai tratar de consertar o beijo, moldar, ajustar e transformar em um encaixe perfeito.

Gustavo pode beijar Júlia e ser explosivo. O mesmo Gustavo pode beijar Letícia e sair bocejando. Em se tratando de química entre duas pessoas, a conclusão é óbvia: ou funciona ou não funciona.

Portanto, beijou e não ouviu tocar nenhum sino? Não viu estrelinhas? E teu corpo paralisou a ponto de não mexer nenhum músculo?

Fuja!

Crônica do Dia: Carta para uma amiga

Kátia Muniz

Querida, amiga:

carta-o-livro-delasSim, eu sei que dói, eu sei que dilacera. Quem já não sofreu por amor. Quem?

Escrevo, assim, por carta. Coisa “démodé”, antiquada, estilo perdido diante das modernidades. Mas, você sabe, acho o barulho da mensagem chegando pelo WhatsApp mecânico demais, urgente demais, fugaz demais. Nada é comparável a encontrar um envelope lacrado na caixa de correspondência. Um papel em manuscrito, letras sem abreviaturas e uma assinatura para legitimar. Acho lindo!

Mas me diga: quando você vai voltar a ser você? Continue lendo

Crônica do Dia: Frases alegres

kátia 1Por: Kátia Muniz

Tenho um amigo que trabalha em um ponto turístico, bem movimentado, da nossa região: a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na paradisíaca Ilha do Mel. No ano passado, ele me cedeu espaço para expor umas frases de minha autoria por lá. Achei a ideia ótima!

Este ano, ele renovou o convite: “Kátia, você pode continuar expondo tuas frases aqui, mas traga umas mais alegres”.

Achei graça, sorri com o rosto todo. Na sequência, engoli em seco: glupt!

Sinceramente, não levo o maior jeito para o humor. Passaria fome se fosse para ganhar a vida contando piadas. Não as conto e confesso que demoro uma eternidade para conseguir achar graça em alguma.

Minhas amigas riem à toa das bobagens que eu digo nos nossos encontros. Mas elas são solidárias comigo. Só pode!

Gosto do gênero comédia. Mas da comédia inteligente, que fique bem claro. Usar o recurso dos palavrões, muitas vezes forçosamente encaixados num texto, não ganha de mim, nem um sorriso similar ao da Monalisa.

Não que eu seja sisuda, viva de mau humor. Nada disso. Mas faço a linha mais compenetrada, eu e meus botões vivemos um amor eterno, sou toda reflexão, e na hora da escrita, isso aflora.

Eu e minhas indagações, eu e meus questionamentos, eu e meu olhar atento, eu e as pequenas miudezas da vida que tanto me encantam, eu e o cotidiano, eu e minha queda para falar das coisas do coração e das dores dos amores. Sou chegada a um drama.

Querido amigo, enviarei as frases. Nenhuma fará os visitantes se acabarem de tanto rir, mas se eles depositarem um olhar atento sobre elas, já me sentirei realizada.

Sorrisos? Entrego os meus e ficará tudo certo.

Crônica do Dia: O Oscar vai para…

I Noite Literária Leão XIII junho 201619 - CópiaPor: Kátia Muniz

Enquanto muitos acompanhavam os ziriguiduns carnavalescos, eu fixei meus olhos na entrega do Oscar/2017.

Aos atores Warren Beatty e Faye Dunaway coube a grata e, segundos depois, a ingrata tarefa de apresentar o vencedor de melhor filme.

Warren Beatty, segurando o envelope errado nas mãos, fica visivelmente perdido. Procura uma nova ficha dentro do invólucro, olha para um lado, para o outro e, por final, joga o abacaxi no colo de Faye Dunaway. Ela, não hesita, anuncia o filme errado.

Segundos depois do ocorrido, bastava abrir a internet para ler os mais diversos comentários. Warren Beatty foi massacrado. Continue lendo

Crônica do Dia: Parada obrigatória

kátia 1

Era dezembro, folga da coluna do jornal. Estava eu de papo pro ar, quando entra uma mensagem de uma leitora perguntando por que eu havia parado de escrever.

Expliquei que faço uma pausa. Preciso. Quem não?

Não a convenci, pois ela ainda acrescentou dizendo que quem escreve não tira férias. Nesse ponto, tenho que concordar. As letras dão de ombros para os momentos de relaxamento. Elas invadem e se ausentam na hora que bem entendem. Têm vida própria, já me acostumei. Continue lendo

Crônica do Dia: As reticências do amor

kátia-muniz2Por: Kátia Muniz

Minha amiga me perguntou: “Você acredita mesmo que um amor possa ficar engavetado durante 20 anos?”.

Ela estava se referindo ao casal de protagonistas da atual novela das 21h, da Rede Globo, “A Lei do Amor”.

Mostrava-se incrédula. Achou um exagero, depois de 20 anos de ausência, os dois pombinhos se olharem e todo o amor vivido no passado retomar à cena.

Eu não acompanho a novela, mas ela foi me dando detalhes, ao mesmo tempo que fincava o pé ao afirmar que isso não existia, era coisa de novela.

Ri e respondi: “A vida também é uma novela, baby.”

Em se tratando de amor tudo é possível, e nada, absolutamente, nada pode ser descartado.

Amor não acompanha lógica. Não segue cartilha. Não respeita roteiro.

Amor surge, acontece, brota, vibra, pulsa.

Sabe qual é o problema do amor? É quando ele encontra as reticências. Continue lendo

Crônica do Dia: “Kashmir”

kátia-muniz2Por: Kátia Muniz

Sim, eu sei. Não sou nada criativa na hora de dar títulos aos meus textos. Não considero, porém, que isso seja uma falha. Vejo como um facilitador.

Se vou comentar sobre um filme a que assisti, há 100% de chance de a crônica levar o mesmo nome. Assim foi com: “Booyhood”, “Birdman”, “Antes do amanhecer”, “A teoria de tudo”, para citar alguns. Continue lendo

Crônica do Dia: Mais uma do Face

cortar-salvar-foto-perfil-facebookPor: Kátia Muniz

No supermercado, cruzou comigo e não me reconheceu. Não que tivéssemos alguma intimidade, mas, esses dias, recebi dela uma solicitação de amizade, via Facebook. Achei que pela minha foto de perfil, ela me reconheceria.

Eu, que tenho memória fotográfica, identifiquei-a de imediato. Abri um sorriso largo que murchou um segundo depois ao perceber que fora negligenciado.

Contei o episódio para uma amiga e ela me veio com essa: “É normal. Fotos de perfis, no Face, geralmente, recebem uma melhor atenção, um trato. Mas, no dia a dia, a realidade é outra”.

Para isso também servem os amigos: dizer verdades.

Fui averiguar o meu perfil e xeretear outros tantos. Descobri que a galera facebookiana gosta de caprichar. Nos perfis, somos capas de revista.

Cabelo ajeitado, mulheres maquiadas, melhor ângulo, melhor pose e estamos prontos para receber os “likes”. Continue lendo

Crônica do Dia: Tudo ao seu tempo

kátia-muniz2Por: Kátia Muniz

A leitura de um determinado livro estava vinculada a uma futura prova sobre o tema. A turma era de crianças entre 10 e 11 anos.

Uma mãe, atenta, leu antecipadamente. Sentiu-se incomodada. Não pelo livro em si, mas pelo fato do assunto a ser trabalhado não parecer adequado à faixa etária das crianças.

A história retrata o início do namoro entre uma menina e um menino de 11 anos e meio. A autora relata o primeiro beijo do casal, com riqueza de detalhes. Conforme o relacionamento avança há a descrição de toques no corpo e as sensações provocadas.

Livros não trazem na capa a classificação de idade. Ainda contamos com o bom senso e o cuidado dos pais e da escola na escolha dos temas a serem entregues aos filhos e aos alunos.

O colorido de alguns livros e as ilustrações com características infantis também não nos livram de averiguar se o conteúdo proposto cabe ou não àquela idade.

Sabemos muito bem que há um avanço precoce da garotada. Soltas diante da televisão, das redes sociais e da parafernália tecnológica, elas acabam pulando etapas.

E a pergunta que não quer calar é: devemos nós, pais e educadores, incentivar esse avanço?

O assunto é polêmico e divide opiniões.  Existe o grupo que patrulha com veemência e mantém os olhos atentos a tudo que envolve as crianças e há os que encaram com certa naturalidade a precocidade que adentrou a infância.

Outro dia, recebi por e-mail, um link do jornal O Globo. A matéria falava justamente sobre essa literatura, digamos, mais apimentada, que invadiu parte do mercado editorial, e que está sendo vorazmente consumida por um público que não é aquele a quem os livros se destinam.

Em um trecho, a educadora Tânia Zagury, afirma o seguinte: “A sociedade se preocupa com a venda, não com a qualidade. Se os livros não passarem pelo crivo dos pais, o conhecimento que seria uma benesse se torna um problema.”

Toque aqui, Tânia.

Ao desempenhar o papel de pais, ainda nos cabe o critério de seleção do que é ou não apropriado aos nossos filhos. Não há necessidade de incentivar o que já anda, naturalmente, de maneira tão acelerada. E também não precisamos absorver como certo e verdadeiro tudo que nos é apresentado.

Que o ato de educar não perca o freio e o rumo e, que cada etapa seja vivida dentro do seu devido tempo.